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John Monteiro era graduado em História pelo Colorado College (1978) e
conquistou os títulos de mestre e doutor na Chicago University (1980;
1985). Foi professor nas universidades de Harvard, Michigan, North
Carolina-Chapel Hill e na École des Hautes Études em Sciences Sociales.
Em 2001, recebeu o título de Livre-docente pela Unicamp, instituição
onde lecionou e orientou diversas pesquisas até a sua inesperada
passagem em Março de 2013.
John
era especialista em história indígena e desenvolvia pesquisas
documentais no Brasil e em outros pontos do antigo Império Português,
com o destaque para Goa, na Índia. Professor do Departamento de
Antropologia Social da UNICAMP desde 1994, sempre trabalhou na
interface entre a História, a sua primeira formação, e a Antropologia.
Adicionava-se à seus múltiplos interesses e à sua abordagem
interdisciplinar o viés político de suas atividades acadêmicas.
As
resenhas aqui apresentadas celebram a memória de John Manuel Monteiro
(1956-2013) em seu último curso intitulado “Perspectivas pós-coloniais
sobre o mundo lusófono colonial”, ministrado no segundo semestre de
2012 ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
Universidade Estadual de Campinas.
O
programa da disciplina estimulou-nos a uma viagem pelo mundo lusófono,
através do circuito do Atlântico e do Índico, com o objetivo de estudar
os processos coloniais que envolveram sociedades e culturas não
ocidentais, problematizando os processos sociais de conversão
religiosa, os estratagemas linguísticos, o hibridismo e a mestiçagem e
as mudanças identitárias multifacetadas.
Ao
longo do curso, não apenas a qualidade das discussões nos motivavam,
mas também o olhar ponderado, coerente e engajado do professor a cerca
das diversas histórias do colonialismo e dos impactos culturais
provocados pela dinâmica do sistema escravocrata na conformação das
sociedades que conhecemos hoje, por exemplo, temas essenciais aos quais
somos chamados a nos posicionar tanto dentro como fora da academia.
Durante o curso, cada um dos alunos ficou responsável por duas tarefas:
conduzir o debate de pelo menos dois dos textos ao longo do semestre
letivo e elaborar uma resenha de um livro recente, apta para
publicação. Cada um de nós cumpriu de bom grado essas duas tarefas.
Conduzimos os debates sobre os textos lidos e discutidos ao longo do
semestre; escolhemos, de comum acordo com o professor, o livro que
iríamos resenhar e entregamos ao professor as primeiras versões de
nossas resenhas.
Na
última aula do semestre, em um Workshop de Resenhas, ele nos devolveu
essas primeiras versões do nosso trabalho, fez críticas e sugestões
para que melhorássemos os nossos textos e marcou uma data para que
enviássemos a segunda versão, “apta para publicação”. Naquele final de
semestre, mesmo em nossos momentos mais pessimistas, não podíamos
imaginar que faltaria ao nosso mestre tempo para encaminhar nossas
resenhas para publicação; tampouco que éramos a sua última turma.
John, dono de um sorriso gentil e de uma generosidade intelectual cada
vez mais rara nas academias, nos deixou aos 56 anos, vítima de um
acidente de transito. Sua preocupação com as histórias não contadas
fica como herança que levaremos adiante com as reflexões iniciadas no
espaço inaugurado pela disciplina com suas férteis discussões.
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