ISSN 1982-9108 -  Zona de Impacto. ANO 16 Vol. 2 - 2014 - Julho/Dezembro

Perspectivas pós-coloniais sobre o mundo lusófono colonial.
Homenagem a John Manuel Monteiro (1956-2013).

 



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Ana Elisa Bersani,
Francisca Navantino P. de Angelo,
Luciano Cardenes Santos,
Marina M. de Freitas,
Vítor Queiroz

 



            John Monteiro era graduado em História pelo Colorado College (1978) e conquistou os títulos de mestre e doutor na Chicago University (1980; 1985). Foi professor nas universidades de Harvard, Michigan, North Carolina-Chapel Hill e na École des Hautes Études em Sciences Sociales. Em 2001, recebeu o título de Livre-docente pela Unicamp, instituição onde lecionou e orientou diversas pesquisas até a sua inesperada passagem em Março de 2013.
            John era especialista em história indígena e desenvolvia pesquisas documentais no Brasil e em outros pontos do antigo Império Português, com o destaque para Goa, na Índia. Professor do Departamento de Antropologia Social da UNICAMP desde 1994, sempre trabalhou na interface entre a História, a sua primeira formação, e a Antropologia. Adicionava-se à seus múltiplos interesses e à sua abordagem interdisciplinar o viés político de suas atividades acadêmicas.
            As resenhas aqui apresentadas celebram a memória de John Manuel Monteiro (1956-2013) em seu último curso intitulado “Perspectivas pós-coloniais sobre o mundo lusófono colonial”, ministrado no segundo semestre de 2012 ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas.
            O programa da disciplina estimulou-nos a uma viagem pelo mundo lusófono, através do circuito do Atlântico e do Índico, com o objetivo de estudar os processos coloniais que envolveram sociedades e culturas não ocidentais, problematizando os processos sociais de conversão religiosa, os estratagemas linguísticos, o hibridismo e a mestiçagem e as mudanças identitárias multifacetadas.
            Ao longo do curso, não apenas a qualidade das discussões nos motivavam, mas também o olhar ponderado, coerente e engajado do professor a cerca das diversas histórias do colonialismo e dos impactos culturais provocados pela dinâmica do sistema escravocrata na conformação das sociedades que conhecemos hoje, por exemplo, temas essenciais aos quais somos chamados a nos posicionar tanto dentro como fora da academia.
            Durante o curso, cada um dos alunos ficou responsável por duas tarefas: conduzir o debate de pelo menos dois dos textos ao longo do semestre letivo e elaborar uma resenha de um livro recente, apta para publicação. Cada um de nós cumpriu de bom grado essas duas tarefas. Conduzimos os debates sobre os textos lidos e discutidos ao longo do semestre; escolhemos, de comum acordo com o professor, o livro que iríamos resenhar e entregamos ao professor as primeiras versões de nossas resenhas.
            Na última aula do semestre, em um Workshop de Resenhas, ele nos devolveu essas primeiras versões do nosso trabalho, fez críticas e sugestões para que melhorássemos os nossos textos e marcou uma data para que enviássemos a segunda versão, “apta para publicação”. Naquele final de semestre, mesmo em nossos momentos mais pessimistas, não podíamos imaginar que faltaria ao nosso mestre tempo para encaminhar nossas resenhas para publicação; tampouco que éramos a sua última turma.
            John, dono de um sorriso gentil e de uma generosidade intelectual cada vez mais rara nas academias, nos deixou aos 56 anos, vítima de um acidente de transito. Sua preocupação com as histórias não contadas fica como herança que levaremos adiante com as reflexões iniciadas no espaço inaugurado pela disciplina com suas férteis discussões.