Zona de Impacto - ISSN 1982-9108  ANO 17  Vol. 2 - 2015 - Junho/Dezembro



Motivações

Fernanda Nogueira

 
Apesar da documentada história dos povos indígenas que ocupavam o Marajó, pouco se tem conversado sobre a temática indígena na região e o que se nota é uma visão de senso comum sobre os indígenas, visão preconceituosa e humilhante.

Como trabalho com línguas indígenas, tenho apresentado dados de diversas línguas brasileiras, em disciplinas de Linguística, da Graduação em Letras na Universidade Federal do Pará – Campus do Marajó-Breves. A reação dos alunos é a mais diversificada possível. No entanto, alguns comentários me chamam a atenção. Um aluno disse, certa vez, ironicamente: “vamos trabalhar, agora, dados do português professora!” As pesquisas com línguas indígenas não têm o seu devido valor reconhecido, uma vez que há uma visão extremamente errônea de inferioridade/inutilidade dos povos e línguas indígenas.

Observei assim que antes de qualquer ciência era necessário discutir sobre o respeito aos povos indígenas brasileiros, e, portanto, a nós mesmos. A ideia sobre a melhor maneira de fazer isso me veio após assistir a uma palestra de Márcia Nunes Maciel, (Márcia Mura) bem como ler seus artigos esclarecedores, para dizer o mínimo. As ideias de Márcia Mura me fizeram ter o respaldo científico para o que eu acreditava. A autora ensina um caminho possível para auto reconhecimento indígena, para qualquer brasileiro, através de relatos e histórias orais.

Os povos marajoaras foram brutalmente massacrados, silenciados e violentados fisicamente e moralmente, de tal modo, que se diz hoje não haver povos indígenas no Marajó. De fato, não há sequer uma pessoa autodeclarada Mapuá, Maturu, Aruã. Destes povos, restaram o lugar minado de materiais arqueológicos que provam fisicamente que eles estavam ali. Me perguntei: Estavam ou estão?

Os alunos do curso de letras do Marajó – Breves e Gurupá, iniciaram uma saga de descoberta de si mesmos tentando responder a seguinte provocação: Há indígenas no Marajó hoje? Os resultados das entrevistas estão expostos nos artigos das revistas e são, no mínimo, emocionantes. A identidade Mapuá, Maturu e Aruã pode ser vista nos detalhes da vida dos povos (genericamente chamados de) marajoaras de hoje.

Aceito em Abril de 2015. Recebido em Março de 2015.