Zona de Impacto - ISSN 1982-9108 ANO 20 Vol. 2 - 2018 - julho/dezembro
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RESUMO Esta
pesquisa teve como objetivo a compreensão da
representação que professores brasileiros da Universidade Federal de
Roraima
construíram sobre a cidade de Boa Vista. O método escolhido para a
coleta dos
dados, exposição e análise foi o materialismo histórico, que considera
as
relações estabelecidas entre indivíduo e sociedade e as possíveis
contradições
nelas contidas. A pesquisa, de caráter quanti e qualitativo, iniciou-se
com uma
entrevista piloto, que forneceu dados iniciais para, junto à
fundamentação
teórica, contribuir na elaboração de um questionário que alcançasse um
número
maior de sujeitos. Este último forneceu diversos dados que foram
agrupados em
três grandes eixos: (1) aspectos socioeconômicos dos professores, (2)
formação
e profissão e (3) visão citadina. Esta última continha ainda uma
avaliação do
processo de constituição da identidade social de lugar. No primeiro, o
fator de
destaque foi o da família, já que 34% dos participantes não reside
junto à
mesma. Este elemento relaciona a distância dos familiares como um
possível
fator de não permanência do professor na cidade. No segundo eixo, o
foco
principal residiu nos possíveis motivos que levaram à migração,
relacionados a
elementos profissionais. Destacaram-se a busca por realização
profissional e
por estabilidade e um alto grau de satisfação com o trabalho
desenvolvido na
Universidade. O terceiro eixo apontou para a busca por melhor qualidade
de vida
relacionada aos eixos anteriores, tendo como destaque a grande oferta
de
trabalho no setor público e os baixos índices de violência da cidade.
Finalmente, a visão de cidade equilibra-se, pela resposta dos
participantes,
entre uma cidade em desenvolvimento, uma cidade
corrompida[3]
(NEVES,
2010) e uma cidade calma. A avaliação evidenciou a questão das
possibilidades
desses professores em fixar-se na cidade. A grande maioria, ainda que
se
identifiquem com a mesma, pretendem deixá-la em determinado ponto da
carreira
profissional. Considerando todos os dados analisados acima, percebeu-se
que a
pesquisa aponta para uma confirmação da hipótese inicial do projeto, de
que
mesmo com uma visão positiva da cidade, esta ainda abriga uma categoria
de
indivíduos que pretendem deixá-la em algum momento, um sujeito em
trânsito. Palavras-chave:
cidade, identidade social de lugar,
migração. Abstract This research had the objective of understanding the
representation that Brazilian teachers of the Federal University of Roraima
built on the city of Boa Vista. The method chosen for data collection, exposure
and analysis was historical materialism, which considers the relations
established between individual and society and the possible contradictions
contained therein. The quantitative and qualitative research began with a pilot
interview, which provided initial data to help with the elaboration of a
questionnaire that reached a larger number of subjects. The latter provided
several data that were grouped into three main axes: socioeconomic aspects
of teachers, training and profession, and city vision. The latter also
contained an evaluation of the process of constitution of the social identity
of place. In the first one, the highlight factor was the family, since 34% of
the participants do not reside next to it. This element relates the distance of
the relatives as a possible factor of non-permanence of the teacher in the
city. In the second axis, the main focus resided in the possible reasons that
led to the migration, related to professional elements. They emphasized the
search for professional achievement and stability and a high degree of
satisfaction with the work developed at the University. The third axis pointed
to the search for a better quality of life related to the previous axes,
highlighting the great job offer in the public sector and the low levels of
violence in the city. Finally, the city view is balanced by the participants'
responses, between a developing city, a corrupted city (NEVES, 2010) and a
quiet city. The evaluation highlighted the question of the possibilities of
these teachers to settle in the city. The vast majority, even if they identify
with it, intend to leave it at a certain point in their professional career.
Considering all the data analyzed above, it was noticed that the research
points to a confirmation of the initial hypothesis of the project, that even
with a positive view of the city, it still houses a category of individuals who
intend to leave it at some point, subject in transit. Key words: city, social identity of place, migration. Introdução A cidade de Boa
Vista-RR se apresenta como uma capital brasileira
atrativa para os fluxos de migração/imigração, devido à oferta de
serviços,
demanda por mão-de-obra qualificada entre outros fatores. As pessoas de
outras
regiões, quando seduzidas pela oferta de trabalho, migram para a
capital na
busca por uma recolocação no mercado de trabalho, concomitante com a
satisfação
profissional e melhor qualidade de vida.
Cabe destacar que
Roraima é um estado brasileiro relativamente jovem,
possuindo apenas 29 anos. É a décima quarta maior unidade federativa do
Brasil.
Em contrapartida, é o estado menos populoso do país, com 522,6 mil
habitantes -
0,3% da população total, de acordo com estimativas do Censo do IBGE de
2017.
Compõe uma tríplice fronteira com os seguintes países: Guiana e
Venezuela. Sua
população é composta em sua grande maioria por migrantes (sobretudo
vindos do
norte e nordeste do país), indígenas, estrangeiros e descendentes
destes povos.
O conhecimento dos aspectos políticos, sociais, econômicos, geográficos
e
históricos desse estado permite a compreensão de algumas de suas
particularidades e como estas refletem na construção da subjetividade
dos
sujeitos roraimenses. O
estado é
constituído por 15 municípios e a capital é Boa Vista. Segundo dados do
Censo
2010, 76,6% da população
roraimense encontra-se na área
urbana e 24,5% na zona rural. Santos
(1998) afirma que a economia do estado
sustenta-se principalmente na base do contracheque, isto é, o poder
público é o
maior empregador de Roraima, sendo seguido pelo setor de comércio.
Corroborando
com essa informação, a SEPLAN (2012) coloca que a administração pública
é
responsável por 46,3% (32.443 postos de trabalho) das atividades
geradas no
município, fato este ainda inalterável atualmente. Segundo o censo 2010,
o estado tinha, neste ano, 450.479 habitantes.
Destes, 12,4% (55.922 pessoas) eram indígenas, 0,6% estrangeiros (2.721
pessoas) e 38,50% migrantes (173.468 pessoas). Sendo que, dentre esses
migrantes, destaca-se a presença dos nordestinos, sobretudo aqueles
provenientes do Maranhão. (Vale, 2006) Em relação ao índice
de eficácia migratória, Roraima, entre o quinquênio
de 2005 a 2010, tornou-se um estado de média absorção migratória, sendo
que no
quinquênio anterior (2000 a 2005) ele se caracterizava como tendo forte
absorção migratória. (IBGE, 2010). No que diz respeito a migração de
retorno,
no período de 2005 a 2010 houve um aumento de 6,3% dos migrantes para
Roraima.
Isto é, cresceu o quantitativo de pessoas que nasceram no estado e que
antes de
2005 se mudaram para outra Unidade da Federação e retornaram a Roraima
antes do
censo 2010. Apesar da pesquisa
realizada em 2013 ressaltar o estudo da representação
que os professores brasileiros da Universidade Federal de Roraima
(UFRR) têm sobre
a cidade de Boa Vista-RR, há um contingente expressivo (mais de 90%) de
professores da instituição oriundos de outros países e/ou outros
estados
brasileiros, resultado de mudanças nos últimos anos, considerando o
migrante
nacional e internacional. A Universidade Federal
de Roraima foi aprovada pela Lei nº 7.364, de 12
de setembro de 1985 e fundada pelo decreto nº 98.127 de 08 de setembro
de 1989,
sendo a primeira Instituição Federal de Ensino Superior a instalar-se
em
Roraima, atualmente contendo três campi: Paricarana, Cauamé e Murupu.
Conforme
informações colhidas no site da instituição (UFRR), a mesma possui 43
cursos de
graduação nas mais diversas áreas do conhecimento, além da Escola
Agrotécnica
(EAgro) e do Colégio de Aplicação (CAp). De acordo com dados
obtidos na Diretoria de Recursos Humanos (DRH) da
Universidade Federal de Roraima, em 2013, na época em que a pesquisa
foi
aplicada, a UFRR contava com 468 professores no seu corpo docente,
sendo 384 do
Magistério Superior (graduação) e 84 do Ensino Básico (Escola
Agrotécnica e
Colégio de Aplicação). Deste
total, 16
professores são migrantes estrangeiros. Quanto aos professores
migrantes
brasileiros, a UFRR conta com professores oriundos de todos os estados
brasileiros
e somam 397 do universo total de professores. Deste modo, entende-se
que em março de 2013 apenas 14,3% dos professores
da UFRR eram naturais de Roraima, enquanto que os professores migrantes
correspondiam a cerca de 85,6%. Desses, 3,3% eram estrangeiros e 82,3%
brasileiros. Nota-se uma forte presença de professores oriundos da
região
Nordeste, que correspondiam a 35,62% dos professores brasileiros,
destacando-se
o Ceará (11,15%) e a Paraíba (8,58%). A região Sudeste, por sua vez,
equivalia
a 21,46%, sobressaindo-se o estado de São Paulo (8,4%). Já a região
Norte, sem
considerar o estado de Roraima, representava 12,66%, evidenciando-se o
Amazonas
(5,79%) e o Pará (5,15%). A região Sul contava com 11,37%, com ênfase
no Rio
Grande do Sul (4,72%). A região Centro-Oeste apresentava 4,07% dos
professores,
sendo o estado de Goiás o mais expressivo, com 1,72%. Esta pesquisa de
iniciação científica é resultado da ampliação de uma
pesquisa realizada com alunos da UFRR durante o ano de 2008 intitulada:
“A representação social do lugar e o lugar das
representações”, que buscou identificar elementos formadores
das
representações sociais dos alunos, no que tange à percepção e ao
sentimento em
residir em uma capital fronteiriça. Os resultados da investigação em
2008
indicaram a formação de uma tríade discursiva nas representações dos
alunos
denominadas de cidade planejada, cidade corrompida e sujeito em
trânsito. As
experiências advindas do processo de migração e imigração recente na
população
investigada produziram um processo de metamorfose na identidade social
de
lugar. Essa população sentia-se, concomitantemente, como estrangeira em
relação
ao seu Estado de origem e a sua cidade atual (Boa Vista). Contudo, essas noções
precisavam de maior aprofundamento, analisando
outros segmentos da sociedade. Desta forma, a atual pesquisa é uma
continuação
da que foi feita em 2008, e teve como objetivo investigar a imagem da
cidade de
Boa Vista, levando em consideração outro segmento da população
citadina, neste
caso: professores migrantes brasileiros da UFRR. Para tanto, foi
considerado o
perfil socioeconômico desses professores; suas motivações e
expectativas
anteriores à migração, atuais e futuras; e aspectos positivos e
negativos da
cidade, de acordo com suas percepções. Esta pesquisa do tipo
exploratória teve por base o materialismo
histórico e está organizada em três etapas: na primeira, foi realizado
um
levantamento bibliográfico. Na segunda etapa foi realizada a coleta do
material
empírico, que se constituiu a partir da aplicação de questionários e
entrevistas.
A técnica utilizada foi a de levantamento social por amostragem. A
terceira e
última etapa consistiu na análise dos dados e discussão. A análise e os resultados
apontaram para uma
confirmação de um tipo de representação classificada como sujeito em
trânsito,
pois perdura no imaginário social o não pertencimento ao local e a
desvinculação da cultura e da vida social na cidade. Breve
apontamento sobre a noção de “Espaço” O conceito de espaço e
a noção que se tem acerca dele é algo
questionável e contraditório. Costumamos conceber espaço como uma
superfície.
Porém, Massey (2012) critica essa visão, pois ao vê-lo dessa forma
estamos
pensando o espaço como algo contínuo e estagnado, sendo assim,
desprovido de
história. A mesma autora traz que outra concepção comum e errônea que
se tem do
espaço é de que este pode ser traduzido em termos de temporalidade, ou
seja, o
espaço é visto como fruto das transformações inevitáveis da história,
mas não
da história ativa, que se transforma e modifica pela ação do homem, e
sim pela
concepção linear de Descartes da história. Por fim há a cisão entre os
conceitos de lugar e espaço, em que o primeiro é a identificação do
sujeito com
o seu espaço, e o segundo é simplesmente espaço (Massey, 2012). Ao ler sobre a
história de Roraima, vemos que a narrativa normalmente
nos remete o ponto de vista do colonizador. O homem branco veio e
supostamente
trouxe a cultura, a civilização e o progresso. Isso insinua um
movimento de
fora para dentro que demonstra que este espaço foi tomado como
superfície
estática, que poderia ser moldada de acordo com os padrões do
colonizador.
Assim, parece que a história de Roraima começou com a vinda da
“civilização”.
Sendo desprezada a vida e cultura dos que aqui viviam, de modo que o
lugar dos
índios era oposto ao espaço ocupado pelos colonizadores, apesar de
tratar-se do
mesmo território. Na contramão dessas
visões, Santos (2008) coloca que “O espaço não é nem
uma coisa nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional:
coisas e
relações juntas.” (Santos, 2008:28). Desse modo, o espaço deve ser
tomado como
um conjunto inseparável de objetos (sejam eles geográficos, naturais ou
sociais) e a sociedade em movimento. Logo o “espaço é resultado da ação
dos
homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e
artificiais.”. A
noção de que o homem transforma
quantitativamente e qualitativamente o espaço que habita, de acordo com
suas
necessidades, parte, intrinsicamente, da compreensão de espaço,
conforme foi
definido anteriormente. Essas modificações do espaço habitado foram
influenciadas pelo crescimento da população mundial, possibilitada por
uma
série de fatores que aumentou a expectativa de vida e reduziu a
mortalidade
infantil, além das migrações nacionais e internacionais. Atualmente os
seres
humanos vivem mais, se reproduzem menos e estão espalhados por todo o
globo
terrestre (Santos, 2008). Santos (2008:44)
pontua que “uma das características do espaço habitado
é sua heterogeneidade, seja em termos de distribuição numérica entre
continentes e países (e também dentro destes), seja em termos de sua
evolução.”
Aliado a essa característica, há a diversidade qualitativa relativa a
cultura,
credos, etnias, estilos de vida, etc. Identidade e suas diferentes
dimensões O que é identidade?
Bom, para se compreender identidade, é preciso saber
como ela se forma, ou seja, é preciso analisar o processo de produção
para
entender o produto. Nesse sentido, vale dar destaque a A. C. Ciampa,
uma figura
de destaque no campo da Psicolgia Social que tem se dedicado a estudar
a
questão da identidade.
Assim, a identidade é
vista como uma totalidade composta por diversas
combinações (pai, filho, amigo, professor...), totalidade está cheia de
contradições, que sofre transformações o tempo todo.
Totalidade, no entanto, una, que abrange a
ideia de diferença e igualdade, ou seja, nos igualamos, por exemplo,
através de
nosso sobrenome com nossos familiares, através de um grupo, como
“brasileiros”
ou mesmo um gênero, “mulheres”, porém ao mesmo tempo nos diferenciamos,
através
do nosso nome (prenome), brasileiros diferentes de estrangeiros, e
mulheres
diferentes de homens, entre outros. Apesar da identidade ser
constituída
através dos grupos sociais que o indivíduo faz parte, isso não
significa algo
estável nem imutável, afinal um grupo, e consequentemente o sujeito,
existe por
meio da prática, do agir, isto é, sou filho ao agir como tal,
trabalhador ao
trabalhar (Ciampa, 2004). Desta forma, Ciampa
(2004:74), afirma que “identidade é movimento, é
desenvolvimento do concreto. Identidade é metamorfose ”, expõe que
somos
compostos por identidades (papeis), e que não basta ser dado estes
papeis, nós
temos que assumir e reafirmar ao longo da vida, pois quando não há a
afirmação,
não existe “papel”, pois a identidade é algo múltiplo e em constante
transformação, já que assumimos diversos papeis (pai, filho,
heterossexual...).
A possibilidade de apresentarmos diferentes configurações de identidade
está relacionada
intrinsecamente com as diferentes configurações da ordem social, isto
quer
dizer que a identidade se apresenta de maneira diferente em diferentes
sociedades (Ciampa, 2004). Deste modo, pode-se dizer que o processo de
identificação utiliza grupos socialmente disponíveis, o que remete a
uma ideia
de identidade social. Da mesma perspectiva
que Ciampa, mas interessado na identidade cultural,
que de certa forma pode ser considerada uma dimensão da identidade
maior,
Stuart Hall (2006) apresenta o conceito do que denomina identidades
culturais “como aspectos de nossas identidades que
surgem de nosso “pertencimento” a culturas étnicas, raciais,
linguísticas,
religiosas e, acima de tudo, nacionais (p.8)”. Hall (2006:13), ao
elucidar sobre a concepção de identidade do sujeito
pós-moderno, aponta que: “É
definida historicamente, e não biologicamente. O
sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
identidades que
não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há
identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que
nossas
identificações estão sendo continuamente deslocadas”. Assim sendo, conforme
Woodward (2009:18-19), “[...] a cultura molda a
identidade ao dar sentido à experiência e ao tornar possível optar,
entre as
várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade
[...]”.
Portanto, a identidade se formaria e se manteria através tanto de um
processo
simbólico quanto social. A concepção de
identidade abordada até o presente momento considera que
o homem se constitui no meio e através deste. Nesse sentido, Mourão e
Cavalcante (2006:4) apontam que “[...] o entorno físico e social
vivenciado
pelo sujeito pode significar um componente fundamental para a
construção da sua
identidade”, o que nos remete a outra dimensão fundamental desta
categoria,
neste caso a noção de identidade de
lugar. Destarte, é necessário
abordar a diferença entre espaço e
lugar. Segundo
Tuan (1983) vivemos nos lugares, mas desejamos os espaços. Para este
autor, os espaços remetem à ideia
de amplidão,
movimento e liberdade, enquanto os lugares
se relacionam com a ideia de objeto, segurança,
estabilidade e proximidade.
Assim sendo, a transformação de espações em lugares aconteceria a
partir da
atribuição de significados e sentidos, através da relação entre as
pessoas e os
lugares, ou seja, do processo de significação e apropriação. Conforme Mourão e
Cavalcante (2006:145), pela apropriação
“[...] o sujeito sente que de alguma forma está ligado
ao lugar, e que este lhe pertence,
mesmo que dele não tenha a posse legal. A relação vem a ser recíproca,
pois ele
também pertence ao lugar”. Logo, pode-se notar que esse processo de
apropriação
associado a um lugar é formador da identidade de um determinado
sujeito, tanto
quanto, por exemplo, suas relações familiares e sociais. Assim sendo,
ao
abordar a questão da identidade seria
apropriado falar em processo, em uma constante identificação,
afinal se o indivíduo está em construção,
transformação o tempo todo, logo sua identidade não pode ser vista como
algo
acabado, imutável. Procedimentos
metodológicos O procedimento
metodológico utilizado na pesquisa relaciona-se com o
método materialista histórico, “no qual considera indivíduo e sociedade
enquanto unidades de contrários, em movimento constante, portanto em
sua
historicidade” (Gonçalves, 2005:104). Os processos históricos
conjunturais, a
formação da cidade (Lefebvre, 2008) e as questões sociais possibilitam
compreender a singularidade do indivíduo no contexto pesquisado. As
representações produzidas secularmente se friccionam com novas
representações
produzidas no tempo presente, em um território influenciado pela
técnica,
informação e ambiente amazônico. A pesquisa foi
submetida ao comitê de ética, por meio de inscrição no
site da Plataforma Brasil, e respeitou todos os procedimentos éticos
estipulados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 466/2012,
que
define normas para pesquisas com seres humanos.
Na primeira etapa da
pesquisa foi realizada uma pesquisa bibliográfica e na segunda etapa
uma coleta
de dados. Foram utilizados procedimentos qualitativos e quantitativos
na coleta
dos dados através de entrevista e questionário, respectivamente. A
característica quantitativa da pesquisa possibilitou obter um número
maior de
respostas que não seria possível através de entrevistas. A parte
qualitativa da
pesquisa ocorreu como “tentativa de uma compreensão detalhada dos
significados
e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em
lugar da
produção de medidas quantitativas ou comportamentos" (Richardson,
2010:90). A
princípio, foi realizada uma
entrevista piloto com um professor para avaliar a eficácia do roteiro
de
entrevista. Esse procedimento caracterizou-se como uma pesquisa prévia,
o que
possibilitou a revisão e modificação deste instrumento de coleta de
dados. Após
a avaliação desta entrevista piloto, foi selecionado outro professor
para
aplicação de uma entrevista aberta. A
segunda parte da coleta de
dados foi realizada por meio de um questionário on-line, elaborado a
partir dos
objetivos da pesquisa. O instrumento foi estruturado no software Google
Drive e
enviado por e-mail aos participantes da pesquisa. O questionário foi
constituído de quatro partes: Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido
(seguindo os padrões da resolução 466/12 CNS); Levantamento de dados
socioeconômicos; Levantamento de informações acerca da formação,
profissão e
trabalho na UFRR; e por fim, sobre a visão citadina. Utilizou-se uma
amostra
não probabilística e de conveniência, isto é, o instrumento foi enviado
para
todos os professores migrantes brasileiros da UFRR, e consideradas
todas as
respostas recebidas. Na sequência, foi
feita a análise dos dados. Em um primeiro momento, foi
realizada a transcrição da entrevista e as informações quantitativas
foram
organizadas e tabuladas eletronicamente. Por fim, foi feita a
triangulação,
comparando os dados coletados com a bibliografia consultada e os
objetivos da
pesquisa. A discussão dos dados foi construída a partir da abordagem
sócio
histórica e dialética. Resultados e discussão Os dados coletados
para a análise e a discussão foram obtidos através de
um questionário e uma entrevista, aplicados com professores migrantes
brasileiros da UFRR. O questionário foi enviado pelo Departamento de
Recursos
Humanos (DRH) da referida universidade somente para os professores
brasileiros,
após a solicitação da pesquisadora. Segundo o funcionário do DRH que
enviou os
e-mails, os mesmos foram enviados para 350 professores brasileiros,
inclusive
os nascidos em Roraima. Desta forma, se considerar os dados obtidos no
DRH, em
setembro de 2013, sobre a quantidade de professores do ensino superior,
excluindo os professores migrantes de outros países e os nascidos em
Roraima,
chega-se a um total de 299 professores migrantes brasileiros. O
funcionário
falou ainda que não tinha informação de quais e-mails estavam
atualizados. Foi solicitado também
à Seção Sindical dos Professores da UFRR
(SESDUF-UFRR) que fosse enviado o questionário para todos os
professores
sindicalizados. No e-mail que foi enviado com o link da pesquisa havia
também
um aviso para que somente os professores migrantes respondessem. O
número total
de participantes que responderam ao questionário foi de 64 professores. A região sudeste teve
maior significância na amostra coletada pelo
questionário, portanto a entrevista foi realizada com um professor
efetivo da
UFRR, migrante da região sudeste, que reside há quatro anos (tempo
significativo) no estado de Roraima, justificando, assim, a escolha do
participante. A apresentação dos
resultados e a discussão dos dados serão apresentados
por tópicos, a seguir. Informações
socioeconômicas Em um universo de 350
professores, 18% dos professores responderam o
questionário, o que equivale a 64 sujeitos. Destes, 26 foram do sexo
feminino,
ou seja, 41% e 38 do sexo masculino, o que corresponde a 59%. Quanto ao
vínculo
destes com a UFRR, 100% foram professores efetivos. Quanto à naturalidade dos
professores, a representatividade maior foi do estado de São Paulo
(28%). Em
segundo apareceu o Ceará (13%) e em terceiro o Rio de Janeiro (11%). Em
seguida
vierem os estados do Paraná (9%), Rio Grande do Sul (8%), Minas Gerais
(6%), Pernambuco
(6%), Acre (3%), Amazonas (3%), Piauí (3%), Rio Grande do Norte (3%),
Distrito
Federal (2%), Espírito Santo (2%), Pará (2%), Sergipe (2%). Todos os
demais
estados não tiveram nenhuma representatividade nos dados coletados.
Desta
forma, entre as 26 unidades federativas presentes no questionário,
apenas
responderam professores naturais de 15 estados brasileiros. Os dados demonstram
que o corpo docente da universidade é
majoritariamente constituído de migrantes fora da Região Norte. Com
ênfase na
região Sudeste, com 47% da população entrevistada, seguida da Nordeste
25%, Sul
17%, Norte 8% e Centro-Oeste 2%. Pode-se afirmar que esse processo tem
relação
com o constante fluxo migratório em Boa Vista, com destaque para o
período
1988-1990, pois mesmo sendo uma capital, a cidade necessita de
mão-de-obra
qualificada de profissionais de outros estados do Brasil.
Esses
dados demonstram uma inversão na procedência dos professores, em
relação aos
dados coletados no DRH, onde a região nordeste tem um maior percentual,
seguida
pela região sudeste. Como a pesquisa foi realizada com 21% dos
professores
migrantes, esses dados podem sofrer alteração no universo de 100%. Dentre os
participantes, casados foram 38%, solteiros e união estável,
ambos 30% e divorciados 3%. Esses dados demonstram que 68% dos
professores são
casados com regime jurídicos diferenciados. A família se constitui como
uma
categoria importante para a discussão dessa pesquisa, pois os laços
estabelecidos entre seus membros podem influenciar de maneira decisiva
nas
representações que os professores têm da cidade, como revela os dados
sobre a
situação familiar desses professores, grande parte não mora com a
família
(34%), 31% dos participantes diz ter se mudado com a família para
Roraima e 20%
ter constituído família em Roraima. De acordo com Reis
(2004), a família, embora seja uma instituição com
certa autonomia, possui íntima relação com questões econômicas, sociais
e
históricas. Apresenta-se ao indivíduo “[…] desde o início da vida e é
marcada
por fortes componentes emocionais que estruturam de forma profunda a
personalidade de seus membros” (p. 104). É, portanto, uma instituição
de suma
importância para criação de laços que, muitas vezes, não podem ser
rompidos
pelo fator de migração. Tem-se como hipótese que a família diz muito
sobre a
permanência ou não desse profissional no Estado. A família ora pode
contribuir
para a adaptação e permanência do professor em Roraima, ora pode trazer
prejuízos, pois, ou seus parentes podem não ter se adaptado, ou ele
pode ter
migrado sem sua família. Relacionando família e natureza do trabalho
(servidor
público federal), o professor pode manter sua família no estado de
origem, em
função de sua estabilidade e poder aquisitivo. Temos como inferência
que um dos motivos da migração e permanência do
professor e família no estado de Roraima tem relação com o número de
filhos e
idade. Os dados revelaram que 52%
possuem filhos e que 63% desses filhos estão abaixo da menoridade (18
anos).
Isso indica que há uma maior probabilidade do filho acompanhar os pais,
pois um
dos motivos da migração para Boa Vista se deu pela busca da qualidade
de vida,
estabilidade e trabalho no setor público. O fato de boa parte dos
filhos serem
crianças e jovens pode ainda justificar uma das dificuldades de
adaptação à
cidade de Boa Vista já que 16% assinalou como ponto de crítica da
cidade a
dificuldade de encontrar espaços nas áreas de esporte, cultura e lazer,
elementos geralmente considerados essenciais (para além da escola) para
garantir uma boa formação aos filhos. Entre os professores
que disseram ter filhos, 72% moram com eles,
enquanto que 28% não moram com os filhos. Em relação aos filhos morarem
em
Roraima, os dados revelaram que 69% moram e 31% não residem no estado.
Ainda em
relação aos filhos dos professores, apenas 32% nasceram em Roraima, ou
seja,
68% nasceram em outros estados. Em relação a situação
familiar, 31% dos participantes diz ter se mudado
com a família para Roraima, 20% ter constituído família em Roraima, 18%
expõe
que a família não mora em Roraima, 16% diz não ter migrado com a
família para o
estado, 7% diz ainda ter se divorciado em Roraima, 4% não constituiu
família no
estado e 3% diz ter constituído uma segunda família. Quanto ao fator da
renda
familiar mensal, 44% responderam que esta encontra-se entre 8 e 12 mil
reais.
Entre os que disseram que este valor está entre 4 e 6 mil reais foi
19%,
enquanto ambos aqueles que responderam entre 6 e 8 mil e acima de 12
mil
representaram 17% da amostra. Apenas 3% diz receber até 4 mil reais. A renda familiar
indica que a maioria dos participantes pertence às
classes B e A. Deduzimos que esse fator influencia fortemente a opinião
do
professor migrante a respeito da cidade, já que um dos motivos para se
mudar
para Boa Vista foi a busca por qualidade de vida (16%). Entretanto, ao
responder sobre as dificuldades para se adaptar à cidade, a maioria
(17%)
indicou o custo de vida como um problema. Os dados do estudo
revelaram que 86% dos professores possuem um veículo
próprio, ou seja, apenas 14% não possuem. Entre estes que possuem um
veículo,
90% possuem um carro, 8% uma motocicleta e 2% outro tipo de transporte. O fato de que a
maioria dos professores possui um veículo próprio, pode
se apresentar como uma necessidade, já que 10% dos participantes
identificaram
o transporte público como um aspecto negativo da cidade, e ainda 12%
identificou o transporte público como uma das dificuldades para se
adaptar a
cidade. Os indicadores socioeconômicos revelaram que o professor tem um
poder
aquisitivo alto, as condições financeiras dos professores permitem
acesso aos
serviços disponíveis na cidade, isso pode leva-los a terem uma visão
diferente
acerca da cidade. Outro
fator relevante
do aspecto de se possuir um carro, tem relação com a visão da cidade. O
automóvel permite ao motorista uma visão rápida da cidade, levando o
motorista
a fixar a sua visão em propagandas e em pontos centrais, como
monumentos,
igrejas, praças e outros pontos de referência. Essa visão rápida e
desatenta
aos poucos cria uma representação da cidade enviesada pelas agências de
propaganda e publicidade e pela organização que os órgãos públicos,
constroem
para a cidade. A renda conjugada com a casa própria, corrobora para a
inferência acima, na medida em que esses professores habitam
determinadas
regiões na cidade. Essas regiões normalmente são as que possuem maior
poder
aquisitivo e se situa na proximidade do centro comercial. A
representação da
cidade tem direta ligação com o lugar em que se vive cotidianamente,
então os professores
começam a construir uma imagem da cidade, a partir da localidade em que
mora,
da localidade do trabalho e do percurso da sua casa para o trabalho. Essa imagem congrega
também outras
experiências com a cidade, mas a força das impressões diárias tem maior
força
no processo de construção da imagem da cidade (Neves, 2016). Antes de ser professor
da UFRR, 30% dos participantes do estudo disseram
que seu último emprego foi como professor no ensino público, 23% como
professor
do ensino privado, 14% como empregado na área de formação, 13% não
trabalhou,
11% assinalou a opção “outro”, 8% diz ter trabalhado como autônomo na
área de
formação, 2% como empregado em uma área diferente da sua formação e 0%
como
autônomo em outra área. Os dados revelam que
boa parte dos professores trabalhava como professor
do ensino privado. Isto pode revelar um dos motivos para a migração,
pois
quando relacionado com as motivações dos participantes para serem
professores
da UFRR, verificamos que entre os três principais motivos aparece:
realização
profissional com 64%, em segundo, com 47%, a questão da estabilidade e
em
terceiro, com 28%, a questão do salário. A partir destes dados, pode-se
inferir
que o serviço privado não proporciona estes aspectos para o servidor,
como pode
ser constatado no trecho da entrevista a seguir: “(...)
acabaram com toda a pós-graduação mas não
mandaram a gente embora, a gente voltou pra sala de aula, e aquilo dava
quase
metade do meu salário, e eu olhei esses caras de uma hora pra outra me
mandam
embora, chega! Eu vou prestar alguma coisa, cheguei nessa conclusão,
era final
de outubro de 2009, eu já soube que a gente ia ser mandado embora, ai
eu já
comecei a caçar concurso, ai final de novembro eu soube do concurso pra
cá ai
já fiz, mandei a documentação (...)” Em relação a motivação
desses profissionais para serem professores da
UFRR, estes deviam escalonar em ordem crescente somente os três
principais
fatores. Entre as opções havia: realização profissional, condições de
trabalho,
salário, estabilidade e outros. Tabela 1 - Motivação
para ser
professor da UFRR
Quanto a primeira
escolha dos professores, o que mais apareceu foi a
questão da realização profissional com 64%, em segundo a estabilidade,
com 31%,
e em terceiro, com 5%, as condições de trabalho. Como a segunda
escolha,
apareceu com 53% a questão da estabilidade; em segundo, com 19% as
condições de
trabalho; e em terceiro, ambos com 14%, tanto realização profissional
quanto
salário. Quanto a terceira escolha para ser professor da UFRR, em
primeiro
apareceu com 46% a questão do salário, em segundo, com 27%, a opção
“outro”; e
em terceiro, com 27%, a questão da estabilidade. Grau
de satisfação com o trabalho de professor da UFRR Em relação ao grau de
satisfação desses profissionais com a UFRR, alguns
aspectos que poderiam influenciar essa dimensão foram elencados e
avaliados,
como: relacionamento com a gestão da UFRR; relacionamento com a gestão
do
curso; relacionamento com os colegas de trabalho; relacionamento com os
alunos;
salário; autonomia profissional; condições físicas do ambiente de
trabalho; e
fluxo de trabalho. Tabela 2 - Grau de
satisfação
com o trabalho de professor da UFRR
Está visível
satisfação com o trabalho, como professor da UFRR, se confirma
quando avaliado os motivos que fazem estes profissionais a permanecerem
na
cidade de Boa Vista, ao menos até certo momento, já que 25% diz ter
sido pela
estabilidade profissional, 19% pela oportunidade de trabalho no setor
público e
17% pela qualidade de vida. Deste modo, percebe-se uma relação
intrínseca entre
trabalho e cidade.
Tabela 3 - Fatores
positivos e negativos da UFRR
Visão
citadina Os professores
classificaram o lugar em que moravam antes de vir para
Roraima como excelente, bom, regular, ruim e péssimo. Desta forma, 59%
qualificaram como bom, 20% como excelente, 14% como regular. Como ruim
e
péssimo, ambos 3%, respectivamente. Quanto ao tempo que
estes professores residem em Boa Vista, 41% moram há
mais de dez anos, 22% entre cinco e dez anos, 17% menos de um ano, 13%
entre
três e cinco anos, 8% entre um e três anos. No que concerne aos motivos
que
levaram estes professores a sair da localidade que residiam
anteriormente, 19%
expuseram que foi por conta da qualidade de vida, 18% por desejo de
mudança,
15% assinalaram a opção “outro” e, 12% por conta da violência.
Desemprego,
razões pessoais e trânsito representaram, respectivamente, 10% da
amostra. Por
dificuldades financeiras 3%, por motivo político 1%. Nas opções:
problemas de
saúde e catástrofes ambientais, não houve respostas. Os dados demonstraram
que o lugar de origem foi bem qualificado pelos
entrevistados. Tal qualificação, normalmente, tem relação com as
relações
primárias e os vínculos de sociabilidade que se estabelecem na cidade,
onde se
passou a infância ou juventude. O fator tempo também contribui para o
estabelecimento do vínculo com a cidade, mas relações familiares e de
amizade,
ou seja, de sociabilidade afetiva, tem uma potência positiva na
subjetividade
das pessoas. Entretanto, como
podemos perceber, aspectos concretos da cidade que
afetam o modo de vida podem influenciar o comportamento das pessoas em
deixar a
cidade de origem em busca de uma outra melhor para se viver. Isso
explica o
item “qualidade de vida, violência e desemprego” representar a soma de
41% da
amostra, no que se refere aos motivos que levaram a saída do local. Deve-se apontar que o
fato de uma pessoa ter vínculo com o lugar não
significa a permanência constante no local. A saída do lugar envolve um
conjunto complexo de situações que a pesquisa demonstra que tem relação
com o
modo de vida, satisfação pessoal e sobrevivência. Considerando essa
lógica, se
explica o percentual de 18% de desejo de mudança, pois tem relação com
a
experiência de cada pessoa com o lugar e inquietude da busca do novo,
desde que
ele mantenha minimamente a conjugação de emprego, qualidade de vida e
sobrevivência. Desta forma,
“permanência no local e saída”, temos como hipótese que são
correlacionadas com aspectos concretos da cidade e da situação das
pessoas e
pode variar conforme o desejo de mudança de cada indivíduo, mas fatores
como
como qualidade de vida e trabalho, tem forte influência na decisão das
pessoas
migrarem. Entretanto, atingindo tal objetivo, os aspectos subjetivos
derivados
dos vínculos estabelecidos com o lugar e com a rede de amizade e
parentesco
podem retornar com força e mediar uma decisão de saída ou retorno. Podemos ter como hipótese
que a migração em
busca de trabalho e qualidade de vida não ocorre de forma passiva no
processo
mental das pessoas, instala um conflito constante que oscila conforme
as
experiências das pessoas se estabelecem no cotidiano do novo lugar,
como
podemos perceber nos dados abaixo da visão cidade de Boa Vista e
permanência. A entrevista abaixo
estabelece a relação entre qualidade de vida e o
trabalho, o novo aparece como confortável e como satisfação. É
um fator que está muito ligado ao
trabalho como professor no ensino público, fato este que aparece também
no
trecho da entrevista: “(...)
Eu diria assim que do que eu vejo dos colegas
trabalharem pelo país aqui é bem mais tranquilo. Eu acho que essa coisa
de você
poder trabalhar e direcionar o seu trabalho pra aquilo que você quer,
não ter
muita “encheção” de saco, às vezes tem planos que a universidade meio
que te
obriga a seguir por um caminho então... pra mim o trabalho aqui me
parece bem
melhor de trabalhar do que do pessoal que ficou ali do Centro-Oeste pra
baixo
do pessoal que eu conheço. Em relação a instituições particulares tem
nem o que
dizer. O povo chora aqui “ah, que eu trabalho pra caramba”, pessoal não
sabe o
que é trabalhar. Trabalhar pra caramba é você sair as cinco horas da
manhã de
segunda-feira e você só parar depois das seis do sábado, chega moído.
Aqui?
nossa... é outra vida. A coisa de não ter que pegar quarenta minutos,
uma hora,
duas horas de condução pra chegar, eu chego em cinco minutos (...)
então
qualidade de vida é outra coisa.” Percebe-se na fala do
sujeito entrevistado que há uma relação muito
próxima entre qualidade de vida e a profissão. Sendo o trabalho o eixo
central
que dá suporte à discussão sobre a migração do professor, percebe-se
que há
satisfação dos professores em relação ao aspecto profissional e também
em
relação à qualidade de vida, como será discutido a seguir. Sobre os outros motivos
que levaram estes
professores a sair da localidade que residiam anteriormente, foi por
desejo de
mudança (18%), 15% assinalaram a opção “outros” e 12% por conta da
violência[4].
Os baixos índices de violência aparecem também como um dos motivos para
permanecer na cidade de Boa Vista e foi considerada por outros 11% dos
participantes. Esta constatação também foi feita pelo entrevistado: “(...)
No Brasil não é muito diferente mas, eu sabia
de alguns dados né, sabia que aqui era uma cidade com a criminalidade
muito
baixa, ainda é né, as pessoas adoram o Datena, elas gostam muito de
ficar
remexendo, falando e dramatizando “ah mas aqui está muito perigoso,
morreu
ali”, eles adoram, mas não é, não é, só comparar. O último dado que eu
vi era a
segunda cidade, segunda capital, menos violenta do país, eu já sabia
disso
(...)”. Motivos
para migrar para Boa
Vista Acerca dos motivos que
levaram estes professores a migrarem para Boa
Vista, 29% diz ter sido pela oportunidade de trabalho no setor público,
18% por
estabilidade profissional, 16% por qualidade de vida, 9% por baixos
índices de
violência, 7% por possibilidades educacionais, 6% por relacionamentos
afetivos,
5% ambos pelo trânsito e por outros motivos respectivamente, 4% pela
rede
familiar. A opção oportunidade de trabalho no setor privado não teve
nenhuma
resposta. Motivos
para permanecer em Boa Vista No que diz respeito
aos motivos que levaram estes professores a
permanecerem em Boa Vista, 25% diz ter sido pela estabilidade
profissional, 19%
pela oportunidade de trabalho no setor público, 17% pela qualidade de
vida, 11%
pelos baixos índices de violência, 8% por conta do trânsito, 7% por
relacionamentos afetivos, pela rede familiar e por possibilidades
educacionais,
respectivamente 4% e 3% a opção “outro”, e por último, com 2%, apareceu
a opção
“a oportunidade de emprego no setor privado”. Pode-se perceber uma
homogeneidade, tanto em relação aos motivos que
levaram este professor a migrar para Boa Vista, quanto para permanecer.
Em
ambos os motivos, a questão do trabalho no serviço público aparece de
modo
predominante, ou seja, este professor se mudou para a cidade e
permanece,
exclusivamente por conta do trabalho, pois o trabalho proporciona os
outros
motivos, neste caso, estabilidade profissional e qualidade de vida. Nesse sentido, os
dados confirmam a hipótese de uma
tríade no processo de migração que envolve trabalho, qualidade de vida,
desejo
de mudança que podem ou não favorecer o apego ao lugar e a identidade de lugar. Tanto o apego como a
identidade de lugar são
processos simbólicos que envolvem o sentido que o espaço habitado passa
a ter
na vida das pessoas. Quanto mais intenso o processo de identificação e
pertencimento, maior o apego à internalização de elementos culturais e
sociais
do local. A movimentação desses elementos simbólicos na subjetividade
das
pessoas e como eles estão sendo internalizados, deve se considerar a
tríade
acima e as experiências delas derivadas no dia a dia, que expressarão
muito da
permanência no local e representação da cidade. Os dados abaixo nos
permitem
visualizar com mais detalhes elementos da cidade que favorecem a
migração e permanência. Em relação à visão que
estes professores tinham de Boa Vista antes de
migrar, grande parte disse não ter uma visão prévia da cidade (29%),
25% uma
visão de cidade calma, 22% de cidade em desenvolvimento. No que diz
respeito à
visão atual que os participantes têm da cidade, 31% acredita que seja
uma
cidade em desenvolvimento, 28% veem como cidade corrompida, 23% como
uma cidade
calma. Percebe-se que não houve uma mudança tão grande entre a visão
anterior e
a visão atual da cidade. No que tange à visão
que estes professores tinham antes de migrar, 29%
disseram não ter uma visão prévia da cidade, 25% uma visão de cidade
calma, 22%
de cidade em desenvolvimento, 11% visão de cidade planejada, 6% visão
de cidade
corrompida, 4% “outro”, 2% cidade não planejada. Na opção “cidade
desenvolvida”, não houve nenhuma resposta. No que diz respeito à visão
atual
que os participantes têm da cidade, 31% acreditam que seja uma cidade
em
desenvolvimento, 28% veem como cidade corrompida, 23% como uma cidade
calma, 9%
como uma cidade planejada, 7% como cidade não planejada, 2% assinalou a
opção
“outro”. Aqui a alternativa “cidade desenvolvida” obteve também
porcentagem de
0%. Acerca das
dificuldades que estes professores encontraram para se
adaptar a cidade, 17% elencaram o custo de vida, 16% as opções de
lazer,
esporte e cultura, 15% a internet, 12% o transporte público, 10% o
clima. Ambos
os itens “relações interpessoais” e “não teve dificuldades” alcançaram
6%
respectivamente. Ainda quanto as dificuldades, 5% assinalaram a questão
de
possibilidades educacionais, 4% tanto o trânsito quanto a rede
familiar, 3%
outros motivos. As alternativas “oportunidade de trabalho no setor
público”,
“oportunidade de trabalho no setor privado” e “violência” foram 1% da
amostra,
cada. Com o intuito de
conhecer alguns aspectos que os professores identificam
como positivo e negativo na cidade de Boa Vista, várias questões foram
listadas. Desta forma, os professores deveriam assinalar todos aqueles
pontos
que eles verificavam como positivo e negativo. Tabela 4 - Aspectos
positivos e negativos da cidade de Boa Vista
Acerca das
expectativas futuras destes professores em relação a
permanecer na cidade de Boa Vista, 23% pretendem permanecer na cidade
até a
aposentadoria, 21% pretendem permanecer indefinidamente, 13% desejam
mudar de
estado brasileiro, 10% desejam retornar para junto da família de
origem, 8%
desejam retornar a cidade natal, 7% tanto pretendem permanecer na
cidade no
máximo pelos próximos 5 anos quanto outros 7% pretendem permanecer na
cidade no
máximo pelos próximos 10 anos. Outros 5% dos participantes pretendem
permanecer
na cidade no máximo pelos próximos 15 anos, 5% ainda desejam mudar de
país e
apenas 1% dos participantes desejam ir para outra cidade do estado de
Roraima. Avaliação
do processo de constituição da identidade social de lugar Com o intuito de
investigar a construção da identidade social de lugar
dos professores em relação a cidade de Boa Vista, algumas afirmativas
foram
dadas, e estes sujeitos da pesquisa tinham que assinalar aquela que
mais
refletisse seu modo de pensar. Deste modo, 37% assinalou que “Boa Vista não é minha terra natal, mas
tornou-se minha terra”. Outros
22% apontaram que “Não sou roraimense de
nascimento, mas sou roraimense de coração”. Em seguida, com
13%, apareceu a
afirmativa “Vivo em Boa Vista, mas não
consegui me identificar com a cidade”.
Posteriormente, com 10% ,m“Ainda
não encontrei uma terra que posso chamar de “minha””. Outros
9% disseram
que “Boa Vista é uma cidade adequada para
se viver, porém não consigo fixar raízes aqui”. Representando
8% da amostra
surgiu a afirmação “Meu sonho é voltar
para minha terra” e com 2% “Para mim
o melhor lugar do mundo é minha terra natal”.
Agrupando as respostas
das duas primeiras afirmativas, que seriam as
pessoas que se identificam em algum grau com a cidade, chega-se a 58%
dos
participantes. Unindo todas as outras afirmações, que diriam respeito a
uma não
identificação com a cidade, representa 42% dos professores. Desta
forma,
percebe-se que não há uma diferença tão significativa entre um e outro.
Porém,
se comparado às expectativas futuras destes professores em relação a
permanecer
em Boa vista, percebe-se que 78% pretende ir embora e apenas 22%
pretende
permanecer no estado de Roraima por tempo indeterminado. Uma questão
surge
desses dados: se boa parte dos professores se identificam de alguma
forma com a
cidade, porque a esmagadora maioria pretende ir embora? Os dados nos revelam
uma situação interessante que confirma a nossa
hipótese, em que o tempo pode minimizar os aspectos concretos da cidade
que
levaram e/ou motivaram as pessoas a migrarem, como trabalho e qualidade
de vida
(já exposto acima), e elevar o desejo de mudança e/ou saída do local
para um
outro lugar e/ou lugar de origem. Pois se somarmos todas as repostas de
saída,
aufere o percentual de 78% dos professores que foram para Boa Vista, os
quais
têm, em geral, o desejo de sair de Boa Vista, o que varia é o tempo da
permanência no local. Defendemos a premissa
que tem relação com a fragilidade no processo de
construção da identidade de lugar e a potência que o local de origem –
que o
sujeito nasceu e/ou foi criado – tem na escolha do local para se
habitar,
considerando o espaço vivido. As lembranças do local de origem
permanecem
pujantes na memória dos professores, tão logo as necessidades materiais
e de
satisfação pessoal são atingidas, esses sujeitos passam a priorizar ao
passar o
tempo, um lugar que lhes proporciona apego e retorno as suas origens. Isso não quer dizer o
abandono de Boa Vista, ou uma representação
negativa do lugar, como os dados demonstraram, mas uma inquietude de
mudança
permanente que acompanha o professor migrante que se relaciona
diretamente com
o processo de identidade de lugar. Estes profissionais
vieram pra Boa Vista por conta do trabalho, e estes
permanecem até quando este trabalho lhe proporciona algum retorno, já
que
desses 78% pretendem ir embora, sendo 23% pretendem permanecer apenas
até a
aposentadoria. Outro motivo para não se identificar e desejar ir
embora, seria
por conta de estar longe da família e desejar esse retorno, já que 10%
tem o
desejo de retornar junto a família de origem. Percebe-se que a família
e o trabalho
mais uma vez aparecem como categorias imbricadas que determinam a
permanência e
a visão da cidade. Acerca dos aspectos da
cidade de Boa Vista com que os professores mais
se identificam, 14% com a natureza, 12% com a diversidade cultural, 10%
com a
pluralidade de povos, 9% com o acolhimento, 8% com o ambiente, 7% com a
culinária, 5% com a cultura, 4%, ambos com a música e com o artesanato.
Os
itens: comportamento, forma de
tratamento, organização da cidade e lazer público
corresponderam a 3%,
cada. Com 2% cada apareceram os itens: folclore, hábito, sotaque,
grupos,
religião e “outros” e com 1% as instituições. Os itens dança,
vestimenta e política não tiveram representação dentro da
amostra. Acerca dos aspectos da
cidade de Boa Vista com que os professores mais
se identificam: 14% com a natureza, 12% com a diversidade cultural, 10%
com a
pluralidade de povos, 9% com o acolhimento, 8% com o ambiente, 7% com a
culinária, 5% com a cultura, 4% ambos com a música e com o artesanato. “(...)as
paisagens naturais também muito bonitas, as
estradas, assim aquela coisa dos cavalos correndo é um negócio de
filme... ah,
eu sabia que eu ia encontrar esse povo manso, então também é uma coisa
muito
legal, a tranquilidade de você andar nas ruas é uma coisa que por si só
vale
estar aqui, eu particularmente aprecio muito (...)” Tanto nos dados
quantitativos quanto na entrevista aparece como algo com
que se identificam a questão da natureza, algo que é característico da
região
norte como um todo e não somente de Boa Vista. O fato de a maioria dos
professores que responderam ao questionário provirem da região Sudeste
pode
justificar, já que eles não possuem tanto acesso a essa característica
da
região Norte. Considerando que a natureza ou ambiente natural compõe a
paisagem,
o professor migrante constrói a imagem da cidade a partir de elementos
naturais
e isso remete ao pensamento idílico e a um modo de vida natural ou mais
“primitivo”. Tem-se, em uma capital, a paisagem e o ambiente artificial
ao
mesmo tempo. Considerações Finais Buscando investigar a
imagem que os professores migrantes brasileiros
têm sobre a cidade de Boa Vista, os resultados encontrados
possibilitaram
estabelecer alguns indicativos que levaram a conjecturas para a
compreensão
desta representação. No que tange à representação do professor sobre a
cidade,
os resultados apontaram para uma relação entre família, trabalho e
cidade,
considerando também aspectos como a qualidade de vida, desejo de
mudança e
permanência. A família surge como
uma variável que influencia fortemente a opinião
deste professor com relação a sua “vista de Boa Vista”, considerando
que as
relações familiares e sociais, que fazem parte de sua identidade,
moldam a
noção de apropriação de um determinado lugar. Tanto o fato de ter
migrado com a
família e esta não ter se adaptado a cidade, quanto não ter migrado com
a
família e por isso deseja retornar para junto desta, influenciam, em
maior ou
menor grau, numa certa resistência em se identificar com a cidade, o
que
justifica, em parte, sua não permanência na mesma. Em relação ao
trabalho, percebe-se que este se apresenta como o
motivador para a vinda deste professor para a cidade, visto que ele
busca
estabilidade profissional e qualidade de vida, características que, a
princípio,
o trabalho no setor público oferece e que este professor de fato
encontra na
cidade. O professor vem pelo trabalho e mesmo estando satisfeito com
todas as
características do mesmo, o trabalho só o mantém na cidade até certo
ponto. A cidade aparece como
o cenário onde essas relações acontecem e se
desvelam, constituindo-se como algo que deve ser pensado e analisado,
uma vez
que a representação que se faz dela interfere na identidade, nas
relações do
indivíduo e principalmente na sua permanência ou não. Os dados demonstraram
que os professores migrantes elencaram diversos
elementos da cidade de forma significativa como ambiente natural
(paisagem),
cultura, qualidade de vida e outros. Isso possibilita conjecturar que a
representação da cidade condensa elementos ligados a sociabilidade e ao
espaço
natural, paradoxalmente, esses elementos favorecem um apego ao lugar,
mas não
um processo de identificação ou internalização da cidade, ao ponto que
determine uma permanência indefinida. A inquietude pela mudança/retorno
é
constância na subjetividade desse professor. Deste
modo, verificou-se que há
de fato uma apropriação da noção de sujeito em trânsito por parte dos
professores, uma vez que estes migram para a cidade, permanecem por
determinado
tempo, porém não conseguem se identificar com a cidade a tal ponto para
permanecer. A acepção do sujeito em trânsito expressa não somente um
pensamento, mas também uma forma de ser das pessoas, e isso tem
resultado nas
ações na vida cotidiana (trabalho, família, lazer, saúde). Observa-se que o
vínculo com a cidade de Boa Vista fica na superfície e
as experiências com o local de origem e/ou outros lugares estão na base
da sua
memória e essas com uma potência de influenciar a ação dos professores
de
retorno, conforme a conjugação da satisfação do trabalho e família.
Essa
transitoriedade entre o presente e o passado, que caracteriza o sujeito
em
trânsito, como uma pessoa em que vivencia uma tensão constante no
processo de
identificação com o lugar, a díade permanência ou retorno, sempre estão
presente na vida dessas pessoas. Referências CIAMPA,
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cidade corrompida tem relação com a concepção de que no Estado de
Roraima,
especialmente na cidade de Boa Vista, as pessoas construíram um
imaginário do
enriquecimento que tem a ver com o resíduo do processo de colonização e
posteriormente
com a extração de pedras preciosas.
A
prática política de corrupção e enriquecimento ilícito são
constantemente
atribuídas ao segmento político da cidade e a setores do funcionalismo
público.
Desta forma, a ideia do lugar, ora como eldorado, ora como lugar da
corrupção,
levou à concepção da cidade corrompida, um lugar que se busca a todo
custo o
enriquecimento, mesmo que infrinja a ética e a moral. [4]
Deve-se considerar que essa pesquisa foi realizada em
2013, como assinalamos no início desse texto. Hoje o indicador de
violência no
estado de Roraima pode ter sofrido alteração.
Recebido 23/04/2018. Aceito para publicação 23/05/2018 |
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