Zona de Impacto - ISSN 1982-9108  ANO 20 Vol. 2 - 2018 - julho/dezembro



Representações de Boa Vista: um estudo com professores da UFRR

Leandro Roberto Neves (Professor. Dr. UFF)[1]
Naoma Gordon Melville (Psicóloga)[2]

 

 

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo a compreensão da representação que professores brasileiros da Universidade Federal de Roraima construíram sobre a cidade de Boa Vista. O método escolhido para a coleta dos dados, exposição e análise foi o materialismo histórico, que considera as relações estabelecidas entre indivíduo e sociedade e as possíveis contradições nelas contidas. A pesquisa, de caráter quanti e qualitativo, iniciou-se com uma entrevista piloto, que forneceu dados iniciais para, junto à fundamentação teórica, contribuir na elaboração de um questionário que alcançasse um número maior de sujeitos. Este último forneceu diversos dados que foram agrupados em três grandes eixos: (1) aspectos socioeconômicos dos professores, (2) formação e profissão e (3) visão citadina. Esta última continha ainda uma avaliação do processo de constituição da identidade social de lugar. No primeiro, o fator de destaque foi o da família, já que 34% dos participantes não reside junto à mesma. Este elemento relaciona a distância dos familiares como um possível fator de não permanência do professor na cidade. No segundo eixo, o foco principal residiu nos possíveis motivos que levaram à migração, relacionados a elementos profissionais. Destacaram-se a busca por realização profissional e por estabilidade e um alto grau de satisfação com o trabalho desenvolvido na Universidade. O terceiro eixo apontou para a busca por melhor qualidade de vida relacionada aos eixos anteriores, tendo como destaque a grande oferta de trabalho no setor público e os baixos índices de violência da cidade. Finalmente, a visão de cidade equilibra-se, pela resposta dos participantes, entre uma cidade em desenvolvimento, uma cidade corrompida[3] (NEVES, 2010) e uma cidade calma. A avaliação evidenciou a questão das possibilidades desses professores em fixar-se na cidade. A grande maioria, ainda que se identifiquem com a mesma, pretendem deixá-la em determinado ponto da carreira profissional. Considerando todos os dados analisados acima, percebeu-se que a pesquisa aponta para uma confirmação da hipótese inicial do projeto, de que mesmo com uma visão positiva da cidade, esta ainda abriga uma categoria de indivíduos que pretendem deixá-la em algum momento, um sujeito em trânsito.

Palavras-chave: cidade, identidade social de lugar, migração.

Abstract

This research had the objective of understanding the representation that Brazilian teachers of the Federal University of Roraima built on the city of Boa Vista. The method chosen for data collection, exposure and analysis was historical materialism, which considers the relations established between individual and society and the possible contradictions contained therein. The quantitative and qualitative research began with a pilot interview, which provided initial data to help with the elaboration of a questionnaire that reached a larger number of subjects. The latter provided several data that were grouped into three main axes: socioeconomic aspects of teachers, training and profession, and city vision. The latter also contained an evaluation of the process of constitution of the social identity of place. In the first one, the highlight factor was the family, since 34% of the participants do not reside next to it. This element relates the distance of the relatives as a possible factor of non-permanence of the teacher in the city. In the second axis, the main focus resided in the possible reasons that led to the migration, related to professional elements. They emphasized the search for professional achievement and stability and a high degree of satisfaction with the work developed at the University. The third axis pointed to the search for a better quality of life related to the previous axes, highlighting the great job offer in the public sector and the low levels of violence in the city. Finally, the city view is balanced by the participants' responses, between a developing city, a corrupted city (NEVES, 2010) and a quiet city. The evaluation highlighted the question of the possibilities of these teachers to settle in the city. The vast majority, even if they identify with it, intend to leave it at a certain point in their professional career. Considering all the data analyzed above, it was noticed that the research points to a confirmation of the initial hypothesis of the project, that even with a positive view of the city, it still houses a category of individuals who intend to leave it at some point, subject in transit.

Key words: city, social identity of place, migration.

 

 

Introdução

 

A cidade de Boa Vista-RR se apresenta como uma capital brasileira atrativa para os fluxos de migração/imigração, devido à oferta de serviços, demanda por mão-de-obra qualificada entre outros fatores. As pessoas de outras regiões, quando seduzidas pela oferta de trabalho, migram para a capital na busca por uma recolocação no mercado de trabalho, concomitante com a satisfação profissional e melhor qualidade de vida. 

Cabe destacar que Roraima é um estado brasileiro relativamente jovem, possuindo apenas 29 anos. É a décima quarta maior unidade federativa do Brasil. Em contrapartida, é o estado menos populoso do país, com 522,6 mil habitantes - 0,3% da população total, de acordo com estimativas do Censo do IBGE de 2017. Compõe uma tríplice fronteira com os seguintes países: Guiana e Venezuela. Sua população é composta em sua grande maioria por migrantes (sobretudo vindos do norte e nordeste do país), indígenas, estrangeiros e descendentes destes povos. O conhecimento dos aspectos políticos, sociais, econômicos, geográficos e históricos desse estado permite a compreensão de algumas de suas particularidades e como estas refletem na construção da subjetividade dos sujeitos roraimenses.  O estado é constituído por 15 municípios e a capital é Boa Vista. Segundo dados do Censo 2010, 76,6% da população roraimense encontra-se na área urbana e 24,5% na zona rural. Santos (1998) afirma que a economia do estado sustenta-se principalmente na base do contracheque, isto é, o poder público é o maior empregador de Roraima, sendo seguido pelo setor de comércio. Corroborando com essa informação, a SEPLAN (2012) coloca que a administração pública é responsável por 46,3% (32.443 postos de trabalho) das atividades geradas no município, fato este ainda inalterável atualmente.

Segundo o censo 2010, o estado tinha, neste ano, 450.479 habitantes. Destes, 12,4% (55.922 pessoas) eram indígenas, 0,6% estrangeiros (2.721 pessoas) e 38,50% migrantes (173.468 pessoas). Sendo que, dentre esses migrantes, destaca-se a presença dos nordestinos, sobretudo aqueles provenientes do Maranhão. (Vale, 2006)

Em relação ao índice de eficácia migratória, Roraima, entre o quinquênio de 2005 a 2010, tornou-se um estado de média absorção migratória, sendo que no quinquênio anterior (2000 a 2005) ele se caracterizava como tendo forte absorção migratória. (IBGE, 2010). No que diz respeito a migração de retorno, no período de 2005 a 2010 houve um aumento de 6,3% dos migrantes para Roraima. Isto é, cresceu o quantitativo de pessoas que nasceram no estado e que antes de 2005 se mudaram para outra Unidade da Federação e retornaram a Roraima antes do censo 2010.

Apesar da pesquisa realizada em 2013 ressaltar o estudo da representação que os professores brasileiros da Universidade Federal de Roraima (UFRR) têm sobre a cidade de Boa Vista-RR, há um contingente expressivo (mais de 90%) de professores da instituição oriundos de outros países e/ou outros estados brasileiros, resultado de mudanças nos últimos anos, considerando o migrante nacional e internacional.

A Universidade Federal de Roraima foi aprovada pela Lei nº 7.364, de 12 de setembro de 1985 e fundada pelo decreto nº 98.127 de 08 de setembro de 1989, sendo a primeira Instituição Federal de Ensino Superior a instalar-se em Roraima, atualmente contendo três campi: Paricarana, Cauamé e Murupu. Conforme informações colhidas no site da instituição (UFRR), a mesma possui 43 cursos de graduação nas mais diversas áreas do conhecimento, além da Escola Agrotécnica (EAgro) e do Colégio de Aplicação (CAp).

De acordo com dados obtidos na Diretoria de Recursos Humanos (DRH) da Universidade Federal de Roraima, em 2013, na época em que a pesquisa foi aplicada, a UFRR contava com 468 professores no seu corpo docente, sendo 384 do Magistério Superior (graduação) e 84 do Ensino Básico (Escola Agrotécnica e Colégio de Aplicação).  Deste total, 16 professores são migrantes estrangeiros. Quanto aos professores migrantes brasileiros, a UFRR conta com professores oriundos de todos os estados brasileiros e somam 397 do universo total de professores.

Deste modo, entende-se que em março de 2013 apenas 14,3% dos professores da UFRR eram naturais de Roraima, enquanto que os professores migrantes correspondiam a cerca de 85,6%. Desses, 3,3% eram estrangeiros e 82,3% brasileiros. Nota-se uma forte presença de professores oriundos da região Nordeste, que correspondiam a 35,62% dos professores brasileiros, destacando-se o Ceará (11,15%) e a Paraíba (8,58%). A região Sudeste, por sua vez, equivalia a 21,46%, sobressaindo-se o estado de São Paulo (8,4%). Já a região Norte, sem considerar o estado de Roraima, representava 12,66%, evidenciando-se o Amazonas (5,79%) e o Pará (5,15%). A região Sul contava com 11,37%, com ênfase no Rio Grande do Sul (4,72%). A região Centro-Oeste apresentava 4,07% dos professores, sendo o estado de Goiás o mais expressivo, com 1,72%.

Esta pesquisa de iniciação científica é resultado da ampliação de uma pesquisa realizada com alunos da UFRR durante o ano de 2008 intitulada: “A representação social do lugar e o lugar das representações”, que buscou identificar elementos formadores das representações sociais dos alunos, no que tange à percepção e ao sentimento em residir em uma capital fronteiriça. Os resultados da investigação em 2008 indicaram a formação de uma tríade discursiva nas representações dos alunos denominadas de cidade planejada, cidade corrompida e sujeito em trânsito. As experiências advindas do processo de migração e imigração recente na população investigada produziram um processo de metamorfose na identidade social de lugar. Essa população sentia-se, concomitantemente, como estrangeira em relação ao seu Estado de origem e a sua cidade atual (Boa Vista).

Contudo, essas noções precisavam de maior aprofundamento, analisando outros segmentos da sociedade. Desta forma, a atual pesquisa é uma continuação da que foi feita em 2008, e teve como objetivo investigar a imagem da cidade de Boa Vista, levando em consideração outro segmento da população citadina, neste caso: professores migrantes brasileiros da UFRR. Para tanto, foi considerado o perfil socioeconômico desses professores; suas motivações e expectativas anteriores à migração, atuais e futuras; e aspectos positivos e negativos da cidade, de acordo com suas percepções.

Esta pesquisa do tipo exploratória teve por base o materialismo histórico e está organizada em três etapas: na primeira, foi realizado um levantamento bibliográfico. Na segunda etapa foi realizada a coleta do material empírico, que se constituiu a partir da aplicação de questionários e entrevistas. A técnica utilizada foi a de levantamento social por amostragem. A terceira e última etapa consistiu na análise dos dados e discussão.  A análise e os resultados apontaram para uma confirmação de um tipo de representação classificada como sujeito em trânsito, pois perdura no imaginário social o não pertencimento ao local e a desvinculação da cultura e da vida social na cidade.

 

Breve apontamento sobre a noção de “Espaço”

 

O conceito de espaço e a noção que se tem acerca dele é algo questionável e contraditório. Costumamos conceber espaço como uma superfície. Porém, Massey (2012) critica essa visão, pois ao vê-lo dessa forma estamos pensando o espaço como algo contínuo e estagnado, sendo assim, desprovido de história. A mesma autora traz que outra concepção comum e errônea que se tem do espaço é de que este pode ser traduzido em termos de temporalidade, ou seja, o espaço é visto como fruto das transformações inevitáveis da história, mas não da história ativa, que se transforma e modifica pela ação do homem, e sim pela concepção linear de Descartes da história. Por fim há a cisão entre os conceitos de lugar e espaço, em que o primeiro é a identificação do sujeito com o seu espaço, e o segundo é simplesmente espaço (Massey, 2012).

Ao ler sobre a história de Roraima, vemos que a narrativa normalmente nos remete o ponto de vista do colonizador. O homem branco veio e supostamente trouxe a cultura, a civilização e o progresso. Isso insinua um movimento de fora para dentro que demonstra que este espaço foi tomado como superfície estática, que poderia ser moldada de acordo com os padrões do colonizador. Assim, parece que a história de Roraima começou com a vinda da “civilização”. Sendo desprezada a vida e cultura dos que aqui viviam, de modo que o lugar dos índios era oposto ao espaço ocupado pelos colonizadores, apesar de tratar-se do mesmo território.

Na contramão dessas visões, Santos (2008) coloca que “O espaço não é nem uma coisa nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional: coisas e relações juntas.” (Santos, 2008:28). Desse modo, o espaço deve ser tomado como um conjunto inseparável de objetos (sejam eles geográficos, naturais ou sociais) e a sociedade em movimento. Logo o “espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e artificiais.”.

 A noção de que o homem transforma quantitativamente e qualitativamente o espaço que habita, de acordo com suas necessidades, parte, intrinsicamente, da compreensão de espaço, conforme foi definido anteriormente. Essas modificações do espaço habitado foram influenciadas pelo crescimento da população mundial, possibilitada por uma série de fatores que aumentou a expectativa de vida e reduziu a mortalidade infantil, além das migrações nacionais e internacionais. Atualmente os seres humanos vivem mais, se reproduzem menos e estão espalhados por todo o globo terrestre (Santos, 2008).

Santos (2008:44) pontua que “uma das características do espaço habitado é sua heterogeneidade, seja em termos de distribuição numérica entre continentes e países (e também dentro destes), seja em termos de sua evolução.” Aliado a essa característica, há a diversidade qualitativa relativa a cultura, credos, etnias, estilos de vida, etc.

 

 Identidade e suas diferentes dimensões

 

O que é identidade? Bom, para se compreender identidade, é preciso saber como ela se forma, ou seja, é preciso analisar o processo de produção para entender o produto. Nesse sentido, vale dar destaque a A. C. Ciampa, uma figura de destaque no campo da Psicolgia Social que tem se dedicado a estudar a questão da identidade.        
            Ciampa (2004), entende identidade como a interseção entre a história da pessoa e seu contexto histórico e social. Desta forma, expõe que nossa identidade se mostra como a descrição de um personagem de uma história, da qual ao mesmo tempo somos personagem e autor/criador, assim “[...] não só a identidade de um personagem constitui a de outra e vice-versa (o pai do filho e o filho do pai), como também a identidade das personagens constitui a do autor [...]” (Ciampa, 2004:60). Ou seja, somos nós que a fabricamos, num contexto de relações culturais e sociais.

Assim, a identidade é vista como uma totalidade composta por diversas combinações (pai, filho, amigo, professor...), totalidade está cheia de contradições, que sofre transformações o tempo todo.  Totalidade, no entanto, una, que abrange a ideia de diferença e igualdade, ou seja, nos igualamos, por exemplo, através de nosso sobrenome com nossos familiares, através de um grupo, como “brasileiros” ou mesmo um gênero, “mulheres”, porém ao mesmo tempo nos diferenciamos, através do nosso nome (prenome), brasileiros diferentes de estrangeiros, e mulheres diferentes de homens, entre outros. Apesar da identidade ser constituída através dos grupos sociais que o indivíduo faz parte, isso não significa algo estável nem imutável, afinal um grupo, e consequentemente o sujeito, existe por meio da prática, do agir, isto é, sou filho ao agir como tal, trabalhador ao trabalhar (Ciampa, 2004).

Desta forma, Ciampa (2004:74), afirma que “identidade é movimento, é desenvolvimento do concreto. Identidade é metamorfose ”, expõe que somos compostos por identidades (papeis), e que não basta ser dado estes papeis, nós temos que assumir e reafirmar ao longo da vida, pois quando não há a afirmação, não existe “papel”, pois a identidade é algo múltiplo e em constante transformação, já que assumimos diversos papeis (pai, filho, heterossexual...). A possibilidade de apresentarmos diferentes configurações de identidade está relacionada intrinsecamente com as diferentes configurações da ordem social, isto quer dizer que a identidade se apresenta de maneira diferente em diferentes sociedades (Ciampa, 2004). Deste modo, pode-se dizer que o processo de identificação utiliza grupos socialmente disponíveis, o que remete a uma ideia de identidade social.

Da mesma perspectiva que Ciampa, mas interessado na identidade cultural, que de certa forma pode ser considerada uma dimensão da identidade maior, Stuart Hall (2006) apresenta o conceito do que denomina identidades culturais “como aspectos de nossas identidades que surgem de nosso “pertencimento” a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais (p.8)”.

Hall (2006:13), ao elucidar sobre a concepção de identidade do sujeito pós-moderno, aponta que:

“É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas”.

 

Assim sendo, conforme Woodward (2009:18-19), “[...] a cultura molda a identidade ao dar sentido à experiência e ao tornar possível optar, entre as várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade [...]”. Portanto, a identidade se formaria e se manteria através tanto de um processo simbólico quanto social.

A concepção de identidade abordada até o presente momento considera que o homem se constitui no meio e através deste. Nesse sentido, Mourão e Cavalcante (2006:4) apontam que “[...] o entorno físico e social vivenciado pelo sujeito pode significar um componente fundamental para a construção da sua identidade”, o que nos remete a outra dimensão fundamental desta categoria, neste caso a noção de identidade de lugar.

Destarte, é necessário abordar a diferença entre espaço e lugar. Segundo Tuan (1983) vivemos nos lugares, mas desejamos os espaços. Para este autor, os espaços remetem à ideia de amplidão, movimento e liberdade, enquanto os lugares se relacionam com a ideia de objeto, segurança, estabilidade e proximidade. Assim sendo, a transformação de espações em lugares aconteceria a partir da atribuição de significados e sentidos, através da relação entre as pessoas e os lugares, ou seja, do processo de significação e apropriação.

Conforme Mourão e Cavalcante (2006:145), pela apropriação “[...] o sujeito sente que de alguma forma está ligado ao lugar, e que este lhe pertence, mesmo que dele não tenha a posse legal. A relação vem a ser recíproca, pois ele também pertence ao lugar”. Logo, pode-se notar que esse processo de apropriação associado a um lugar é formador da identidade de um determinado sujeito, tanto quanto, por exemplo, suas relações familiares e sociais. Assim sendo, ao abordar a questão da identidade seria apropriado falar em processo, em uma constante identificação, afinal se o indivíduo está em construção, transformação o tempo todo, logo sua identidade não pode ser vista como algo acabado, imutável.

 

Procedimentos metodológicos

 

O procedimento metodológico utilizado na pesquisa relaciona-se com o método materialista histórico, “no qual considera indivíduo e sociedade enquanto unidades de contrários, em movimento constante, portanto em sua historicidade” (Gonçalves, 2005:104). Os processos históricos conjunturais, a formação da cidade (Lefebvre, 2008) e as questões sociais possibilitam compreender a singularidade do indivíduo no contexto pesquisado. As representações produzidas secularmente se friccionam com novas representações produzidas no tempo presente, em um território influenciado pela técnica, informação e ambiente amazônico.

A pesquisa foi submetida ao comitê de ética, por meio de inscrição no site da Plataforma Brasil, e respeitou todos os procedimentos éticos estipulados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 466/2012, que define normas para pesquisas com seres humanos.

            Na primeira etapa da pesquisa foi realizada uma pesquisa bibliográfica e na segunda etapa uma coleta de dados. Foram utilizados procedimentos qualitativos e quantitativos na coleta dos dados através de entrevista e questionário, respectivamente. A característica quantitativa da pesquisa possibilitou obter um número maior de respostas que não seria possível através de entrevistas. A parte qualitativa da pesquisa ocorreu como “tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas ou comportamentos" (Richardson, 2010:90).

 A princípio, foi realizada uma entrevista piloto com um professor para avaliar a eficácia do roteiro de entrevista. Esse procedimento caracterizou-se como uma pesquisa prévia, o que possibilitou a revisão e modificação deste instrumento de coleta de dados. Após a avaliação desta entrevista piloto, foi selecionado outro professor para aplicação de uma entrevista aberta.

 A segunda parte da coleta de dados foi realizada por meio de um questionário on-line, elaborado a partir dos objetivos da pesquisa. O instrumento foi estruturado no software Google Drive e enviado por e-mail aos participantes da pesquisa. O questionário foi constituído de quatro partes: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (seguindo os padrões da resolução 466/12 CNS); Levantamento de dados socioeconômicos; Levantamento de informações acerca da formação, profissão e trabalho na UFRR; e por fim, sobre a visão citadina. Utilizou-se uma amostra não probabilística e de conveniência, isto é, o instrumento foi enviado para todos os professores migrantes brasileiros da UFRR, e consideradas todas as respostas recebidas.

Na sequência, foi feita a análise dos dados. Em um primeiro momento, foi realizada a transcrição da entrevista e as informações quantitativas foram organizadas e tabuladas eletronicamente. Por fim, foi feita a triangulação, comparando os dados coletados com a bibliografia consultada e os objetivos da pesquisa. A discussão dos dados foi construída a partir da abordagem sócio histórica e dialética.

 

Resultados e discussão

 

Os dados coletados para a análise e a discussão foram obtidos através de um questionário e uma entrevista, aplicados com professores migrantes brasileiros da UFRR. O questionário foi enviado pelo Departamento de Recursos Humanos (DRH) da referida universidade somente para os professores brasileiros, após a solicitação da pesquisadora. Segundo o funcionário do DRH que enviou os e-mails, os mesmos foram enviados para 350 professores brasileiros, inclusive os nascidos em Roraima. Desta forma, se considerar os dados obtidos no DRH, em setembro de 2013, sobre a quantidade de professores do ensino superior, excluindo os professores migrantes de outros países e os nascidos em Roraima, chega-se a um total de 299 professores migrantes brasileiros. O funcionário falou ainda que não tinha informação de quais e-mails estavam atualizados.

Foi solicitado também à Seção Sindical dos Professores da UFRR (SESDUF-UFRR) que fosse enviado o questionário para todos os professores sindicalizados. No e-mail que foi enviado com o link da pesquisa havia também um aviso para que somente os professores migrantes respondessem. O número total de participantes que responderam ao questionário foi de 64 professores. 

A região sudeste teve maior significância na amostra coletada pelo questionário, portanto a entrevista foi realizada com um professor efetivo da UFRR, migrante da região sudeste, que reside há quatro anos (tempo significativo) no estado de Roraima, justificando, assim, a escolha do participante.

A apresentação dos resultados e a discussão dos dados serão apresentados por tópicos, a seguir.

 

Informações socioeconômicas

 

Em um universo de 350 professores, 18% dos professores responderam o questionário, o que equivale a 64 sujeitos. Destes, 26 foram do sexo feminino, ou seja, 41% e 38 do sexo masculino, o que corresponde a 59%. Quanto ao vínculo destes com a UFRR, 100% foram professores efetivos.

Quanto à naturalidade dos professores, a representatividade maior foi do estado de São Paulo (28%). Em segundo apareceu o Ceará (13%) e em terceiro o Rio de Janeiro (11%). Em seguida vierem os estados do Paraná (9%), Rio Grande do Sul (8%), Minas Gerais (6%), Pernambuco (6%), Acre (3%), Amazonas (3%), Piauí (3%), Rio Grande do Norte (3%), Distrito Federal (2%), Espírito Santo (2%), Pará (2%), Sergipe (2%). Todos os demais estados não tiveram nenhuma representatividade nos dados coletados. Desta forma, entre as 26 unidades federativas presentes no questionário, apenas responderam professores naturais de 15 estados brasileiros.

Os dados demonstram que o corpo docente da universidade é majoritariamente constituído de migrantes fora da Região Norte. Com ênfase na região Sudeste, com 47% da população entrevistada, seguida da Nordeste 25%, Sul 17%, Norte 8% e Centro-Oeste 2%. Pode-se afirmar que esse processo tem relação com o constante fluxo migratório em Boa Vista, com destaque para o período 1988-1990, pois mesmo sendo uma capital, a cidade necessita de mão-de-obra qualificada de profissionais de outros estados do Brasil.

            Esses dados demonstram uma inversão na procedência dos professores, em relação aos dados coletados no DRH, onde a região nordeste tem um maior percentual, seguida pela região sudeste. Como a pesquisa foi realizada com 21% dos professores migrantes, esses dados podem sofrer alteração no universo de 100%.

Dentre os participantes, casados foram 38%, solteiros e união estável, ambos 30% e divorciados 3%. Esses dados demonstram que 68% dos professores são casados com regime jurídicos diferenciados. A família se constitui como uma categoria importante para a discussão dessa pesquisa, pois os laços estabelecidos entre seus membros podem influenciar de maneira decisiva nas representações que os professores têm da cidade, como revela os dados sobre a situação familiar desses professores, grande parte não mora com a família (34%), 31% dos participantes diz ter se mudado com a família para Roraima e 20% ter constituído família em Roraima.

De acordo com Reis (2004), a família, embora seja uma instituição com certa autonomia, possui íntima relação com questões econômicas, sociais e históricas. Apresenta-se ao indivíduo “[…] desde o início da vida e é marcada por fortes componentes emocionais que estruturam de forma profunda a personalidade de seus membros” (p. 104). É, portanto, uma instituição de suma importância para criação de laços que, muitas vezes, não podem ser rompidos pelo fator de migração. Tem-se como hipótese que a família diz muito sobre a permanência ou não desse profissional no Estado. A família ora pode contribuir para a adaptação e permanência do professor em Roraima, ora pode trazer prejuízos, pois, ou seus parentes podem não ter se adaptado, ou ele pode ter migrado sem sua família. Relacionando família e natureza do trabalho (servidor público federal), o professor pode manter sua família no estado de origem, em função de sua estabilidade e poder aquisitivo.

Temos como inferência que um dos motivos da migração e permanência do professor e família no estado de Roraima tem relação com o número de filhos e idade. Os dados revelaram que 52% possuem filhos e que 63% desses filhos estão abaixo da menoridade (18 anos). Isso indica que há uma maior probabilidade do filho acompanhar os pais, pois um dos motivos da migração para Boa Vista se deu pela busca da qualidade de vida, estabilidade e trabalho no setor público. O fato de boa parte dos filhos serem crianças e jovens pode ainda justificar uma das dificuldades de adaptação à cidade de Boa Vista já que 16% assinalou como ponto de crítica da cidade a dificuldade de encontrar espaços nas áreas de esporte, cultura e lazer, elementos geralmente considerados essenciais (para além da escola) para garantir uma boa formação aos filhos.

Entre os professores que disseram ter filhos, 72% moram com eles, enquanto que 28% não moram com os filhos. Em relação aos filhos morarem em Roraima, os dados revelaram que 69% moram e 31% não residem no estado. Ainda em relação aos filhos dos professores, apenas 32% nasceram em Roraima, ou seja, 68% nasceram em outros estados. 

Em relação a situação familiar, 31% dos participantes diz ter se mudado com a família para Roraima, 20% ter constituído família em Roraima, 18% expõe que a família não mora em Roraima, 16% diz não ter migrado com a família para o estado, 7% diz ainda ter se divorciado em Roraima, 4% não constituiu família no estado e 3% diz ter constituído uma segunda família. Quanto ao fator da renda familiar mensal, 44% responderam que esta encontra-se entre 8 e 12 mil reais. Entre os que disseram que este valor está entre 4 e 6 mil reais foi 19%, enquanto ambos aqueles que responderam entre 6 e 8 mil e acima de 12 mil representaram 17% da amostra. Apenas 3% diz receber até 4 mil reais.

A renda familiar indica que a maioria dos participantes pertence às classes B e A. Deduzimos que esse fator influencia fortemente a opinião do professor migrante a respeito da cidade, já que um dos motivos para se mudar para Boa Vista foi a busca por qualidade de vida (16%). Entretanto, ao responder sobre as dificuldades para se adaptar à cidade, a maioria (17%) indicou o custo de vida como um problema.

Os dados do estudo revelaram que 86% dos professores possuem um veículo próprio, ou seja, apenas 14% não possuem. Entre estes que possuem um veículo, 90% possuem um carro, 8% uma motocicleta e 2% outro tipo de transporte.

O fato de que a maioria dos professores possui um veículo próprio, pode se apresentar como uma necessidade, já que 10% dos participantes identificaram o transporte público como um aspecto negativo da cidade, e ainda 12% identificou o transporte público como uma das dificuldades para se adaptar a cidade. Os indicadores socioeconômicos revelaram que o professor tem um poder aquisitivo alto, as condições financeiras dos professores permitem acesso aos serviços disponíveis na cidade, isso pode leva-los a terem uma visão diferente acerca da cidade.  Outro fator relevante do aspecto de se possuir um carro, tem relação com a visão da cidade. O automóvel permite ao motorista uma visão rápida da cidade, levando o motorista a fixar a sua visão em propagandas e em pontos centrais, como monumentos, igrejas, praças e outros pontos de referência. Essa visão rápida e desatenta aos poucos cria uma representação da cidade enviesada pelas agências de propaganda e publicidade e pela organização que os órgãos públicos, constroem para a cidade. A renda conjugada com a casa própria, corrobora para a inferência acima, na medida em que esses professores habitam determinadas regiões na cidade. Essas regiões normalmente são as que possuem maior poder aquisitivo e se situa na proximidade do centro comercial. A representação da cidade tem direta ligação com o lugar em que se vive cotidianamente, então os professores começam a construir uma imagem da cidade, a partir da localidade em que mora, da localidade do trabalho e do percurso da sua casa para o trabalho.  Essa imagem congrega também outras experiências com a cidade, mas a força das impressões diárias tem maior força no processo de construção da imagem da cidade (Neves, 2016).

Antes de ser professor da UFRR, 30% dos participantes do estudo disseram que seu último emprego foi como professor no ensino público, 23% como professor do ensino privado, 14% como empregado na área de formação, 13% não trabalhou, 11% assinalou a opção “outro”, 8% diz ter trabalhado como autônomo na área de formação, 2% como empregado em uma área diferente da sua formação e 0% como autônomo em outra área.

Os dados revelam que boa parte dos professores trabalhava como professor do ensino privado. Isto pode revelar um dos motivos para a migração, pois quando relacionado com as motivações dos participantes para serem professores da UFRR, verificamos que entre os três principais motivos aparece: realização profissional com 64%, em segundo, com 47%, a questão da estabilidade e em terceiro, com 28%, a questão do salário. A partir destes dados, pode-se inferir que o serviço privado não proporciona estes aspectos para o servidor, como pode ser constatado no trecho da entrevista a seguir:

“(...) acabaram com toda a pós-graduação mas não mandaram a gente embora, a gente voltou pra sala de aula, e aquilo dava quase metade do meu salário, e eu olhei esses caras de uma hora pra outra me mandam embora, chega! Eu vou prestar alguma coisa, cheguei nessa conclusão, era final de outubro de 2009, eu já soube que a gente ia ser mandado embora, ai eu já comecei a caçar concurso, ai final de novembro eu soube do concurso pra cá ai já fiz, mandei a documentação (...)”

 

Em relação a motivação desses profissionais para serem professores da UFRR, estes deviam escalonar em ordem crescente somente os três principais fatores. Entre as opções havia: realização profissional, condições de trabalho, salário, estabilidade e outros.

 

Tabela 1 - Motivação para ser professor da UFRR

Motivação para ser professor da UFRR

 

Condições de trabalho

5%

19%

 

Salário

 

14%

46%

Estabilidade

31%

53%

27%

Realização profissional

64%

14%

 

Outros

 

 

27%

 

Quanto a primeira escolha dos professores, o que mais apareceu foi a questão da realização profissional com 64%, em segundo a estabilidade, com 31%, e em terceiro, com 5%, as condições de trabalho. Como a segunda escolha, apareceu com 53% a questão da estabilidade; em segundo, com 19% as condições de trabalho; e em terceiro, ambos com 14%, tanto realização profissional quanto salário. Quanto a terceira escolha para ser professor da UFRR, em primeiro apareceu com 46% a questão do salário, em segundo, com 27%, a opção “outro”; e em terceiro, com 27%, a questão da estabilidade.

 

Grau de satisfação com o trabalho de professor da UFRR

 

Em relação ao grau de satisfação desses profissionais com a UFRR, alguns aspectos que poderiam influenciar essa dimensão foram elencados e avaliados, como: relacionamento com a gestão da UFRR; relacionamento com a gestão do curso; relacionamento com os colegas de trabalho; relacionamento com os alunos; salário; autonomia profissional; condições físicas do ambiente de trabalho; e fluxo de trabalho.

 

 

Tabela 2 - Grau de satisfação com o trabalho de professor da UFRR

Grau de satisfação com o trabalho de professor da UFRR

Categorias

Excelente

Bom

Regular

Ruim

Péssimo

Relacionamento com a gestão da UFRR

17%

51%

27%

3%

2%

Relacionamento com a gestão do curso

44%

42%

11%

3%

0%

Relacionamento com os colegas de trabalho

31%

51%

13%

2%

0%

Relacionamento com os alunos

47%

48%

5%

0%

0%

Salário

3%

44%

34%

16%

3%

Autonomia profissional

23%

70%

14%

3%

0%

Condições físicas do ambiente de trabalho

13%

56%

6%

25%

0%

Fluxo de trabalho

9%

55%

17%

17%

2%

 

Está visível satisfação com o trabalho, como professor da UFRR, se confirma quando avaliado os motivos que fazem estes profissionais a permanecerem na cidade de Boa Vista, ao menos até certo momento, já que 25% diz ter sido pela estabilidade profissional, 19% pela oportunidade de trabalho no setor público e 17% pela qualidade de vida. Deste modo, percebe-se uma relação intrínseca entre trabalho e cidade.      

 

Tabela 3 - Fatores positivos e negativos da UFRR

Fatores positivos e negativos da UFRR

Categorias

Positivo

Negativo

Ações afirmativas

14%

2%

R.U

14%

5%

Quantidade de cursos

10%

6%

Incentivo a pesquisa

10%

13%

Criação do H.U

11%

4%

Incentivos a projetos de extensão

9%

8%

RESU

9%

3%

Acervo bibliográfico

8%

14%

Estrutura física dos blocos

7%

13%

Organização espacial dos prédios

5%

16%

Ornamentação do campus

2%

14%

Outros

5%

3%

 

 

Visão citadina

 

Os professores classificaram o lugar em que moravam antes de vir para Roraima como excelente, bom, regular, ruim e péssimo. Desta forma, 59% qualificaram como bom, 20% como excelente, 14% como regular. Como ruim e péssimo, ambos 3%, respectivamente.

Quanto ao tempo que estes professores residem em Boa Vista, 41% moram há mais de dez anos, 22% entre cinco e dez anos, 17% menos de um ano, 13% entre três e cinco anos, 8% entre um e três anos. No que concerne aos motivos que levaram estes professores a sair da localidade que residiam anteriormente, 19% expuseram que foi por conta da qualidade de vida, 18% por desejo de mudança, 15% assinalaram a opção “outro” e, 12% por conta da violência. Desemprego, razões pessoais e trânsito representaram, respectivamente, 10% da amostra. Por dificuldades financeiras 3%, por motivo político 1%. Nas opções: problemas de saúde e catástrofes ambientais, não houve respostas.

Os dados demonstraram que o lugar de origem foi bem qualificado pelos entrevistados. Tal qualificação, normalmente, tem relação com as relações primárias e os vínculos de sociabilidade que se estabelecem na cidade, onde se passou a infância ou juventude. O fator tempo também contribui para o estabelecimento do vínculo com a cidade, mas relações familiares e de amizade, ou seja, de sociabilidade afetiva, tem uma potência positiva na subjetividade das pessoas.

Entretanto, como podemos perceber, aspectos concretos da cidade que afetam o modo de vida podem influenciar o comportamento das pessoas em deixar a cidade de origem em busca de uma outra melhor para se viver. Isso explica o item “qualidade de vida, violência e desemprego” representar a soma de 41% da amostra, no que se refere aos motivos que levaram a saída do local.

Deve-se apontar que o fato de uma pessoa ter vínculo com o lugar não significa a permanência constante no local. A saída do lugar envolve um conjunto complexo de situações que a pesquisa demonstra que tem relação com o modo de vida, satisfação pessoal e sobrevivência. Considerando essa lógica, se explica o percentual de 18% de desejo de mudança, pois tem relação com a experiência de cada pessoa com o lugar e inquietude da busca do novo, desde que ele mantenha minimamente a conjugação de emprego, qualidade de vida e sobrevivência.

Desta forma, “permanência no local e saída”, temos como hipótese que são correlacionadas com aspectos concretos da cidade e da situação das pessoas e pode variar conforme o desejo de mudança de cada indivíduo, mas fatores como como qualidade de vida e trabalho, tem forte influência na decisão das pessoas migrarem. Entretanto, atingindo tal objetivo, os aspectos subjetivos derivados dos vínculos estabelecidos com o lugar e com a rede de amizade e parentesco podem retornar com força e mediar uma decisão de saída ou retorno.  Podemos ter como hipótese que a migração em busca de trabalho e qualidade de vida não ocorre de forma passiva no processo mental das pessoas, instala um conflito constante que oscila conforme as experiências das pessoas se estabelecem no cotidiano do novo lugar, como podemos perceber nos dados abaixo da visão cidade de Boa Vista e permanência.

A entrevista abaixo estabelece a relação entre qualidade de vida e o trabalho, o novo aparece como confortável e como satisfação.

 É um fator que está muito ligado ao trabalho como professor no ensino público, fato este que aparece também no trecho da entrevista:

“(...) Eu diria assim que do que eu vejo dos colegas trabalharem pelo país aqui é bem mais tranquilo. Eu acho que essa coisa de você poder trabalhar e direcionar o seu trabalho pra aquilo que você quer, não ter muita “encheção” de saco, às vezes tem planos que a universidade meio que te obriga a seguir por um caminho então... pra mim o trabalho aqui me parece bem melhor de trabalhar do que do pessoal que ficou ali do Centro-Oeste pra baixo do pessoal que eu conheço. Em relação a instituições particulares tem nem o que dizer. O povo chora aqui “ah, que eu trabalho pra caramba”, pessoal não sabe o que é trabalhar. Trabalhar pra caramba é você sair as cinco horas da manhã de segunda-feira e você só parar depois das seis do sábado, chega moído. Aqui? nossa... é outra vida. A coisa de não ter que pegar quarenta minutos, uma hora, duas horas de condução pra chegar, eu chego em cinco minutos (...) então qualidade de vida é outra coisa.”

 

Percebe-se na fala do sujeito entrevistado que há uma relação muito próxima entre qualidade de vida e a profissão. Sendo o trabalho o eixo central que dá suporte à discussão sobre a migração do professor, percebe-se que há satisfação dos professores em relação ao aspecto profissional e também em relação à qualidade de vida, como será discutido a seguir.  Sobre os outros motivos que levaram estes professores a sair da localidade que residiam anteriormente, foi por desejo de mudança (18%), 15% assinalaram a opção “outros” e 12% por conta da violência[4]. Os baixos índices de violência aparecem também como um dos motivos para permanecer na cidade de Boa Vista e foi considerada por outros 11% dos participantes. Esta constatação também foi feita pelo entrevistado:

“(...) No Brasil não é muito diferente mas, eu sabia de alguns dados né, sabia que aqui era uma cidade com a criminalidade muito baixa, ainda é né, as pessoas adoram o Datena, elas gostam muito de ficar remexendo, falando e dramatizando “ah mas aqui está muito perigoso, morreu ali”, eles adoram, mas não é, não é, só comparar. O último dado que eu vi era a segunda cidade, segunda capital, menos violenta do país, eu já sabia disso (...)”.

 

Motivos para migrar para Boa Vista

 

Acerca dos motivos que levaram estes professores a migrarem para Boa Vista, 29% diz ter sido pela oportunidade de trabalho no setor público, 18% por estabilidade profissional, 16% por qualidade de vida, 9% por baixos índices de violência, 7% por possibilidades educacionais, 6% por relacionamentos afetivos, 5% ambos pelo trânsito e por outros motivos respectivamente, 4% pela rede familiar. A opção oportunidade de trabalho no setor privado não teve nenhuma resposta.

 

 Motivos para permanecer em Boa Vista

 

No que diz respeito aos motivos que levaram estes professores a permanecerem em Boa Vista, 25% diz ter sido pela estabilidade profissional, 19% pela oportunidade de trabalho no setor público, 17% pela qualidade de vida, 11% pelos baixos índices de violência, 8% por conta do trânsito, 7% por relacionamentos afetivos, pela rede familiar e por possibilidades educacionais, respectivamente 4% e 3% a opção “outro”, e por último, com 2%, apareceu a opção “a oportunidade de emprego no setor privado”.

Pode-se perceber uma homogeneidade, tanto em relação aos motivos que levaram este professor a migrar para Boa Vista, quanto para permanecer. Em ambos os motivos, a questão do trabalho no serviço público aparece de modo predominante, ou seja, este professor se mudou para a cidade e permanece, exclusivamente por conta do trabalho, pois o trabalho proporciona os outros motivos, neste caso, estabilidade profissional e qualidade de vida.

Nesse sentido, os dados confirmam a hipótese de uma tríade no processo de migração que envolve trabalho, qualidade de vida, desejo de mudança que podem ou não favorecer o apego ao lugar e a identidade de lugar. Tanto o apego como a identidade de lugar são processos simbólicos que envolvem o sentido que o espaço habitado passa a ter na vida das pessoas. Quanto mais intenso o processo de identificação e pertencimento, maior o apego à internalização de elementos culturais e sociais do local. A movimentação desses elementos simbólicos na subjetividade das pessoas e como eles estão sendo internalizados, deve se considerar a tríade acima e as experiências delas derivadas no dia a dia, que expressarão muito da permanência no local e representação da cidade. Os dados abaixo nos permitem visualizar com mais detalhes elementos da cidade que favorecem a migração e permanência.

Em relação à visão que estes professores tinham de Boa Vista antes de migrar, grande parte disse não ter uma visão prévia da cidade (29%), 25% uma visão de cidade calma, 22% de cidade em desenvolvimento. No que diz respeito à visão atual que os participantes têm da cidade, 31% acredita que seja uma cidade em desenvolvimento, 28% veem como cidade corrompida, 23% como uma cidade calma. Percebe-se que não houve uma mudança tão grande entre a visão anterior e a visão atual da cidade.

No que tange à visão que estes professores tinham antes de migrar, 29% disseram não ter uma visão prévia da cidade, 25% uma visão de cidade calma, 22% de cidade em desenvolvimento, 11% visão de cidade planejada, 6% visão de cidade corrompida, 4% “outro”, 2% cidade não planejada. Na opção “cidade desenvolvida”, não houve nenhuma resposta. No que diz respeito à visão atual que os participantes têm da cidade, 31% acreditam que seja uma cidade em desenvolvimento, 28% veem como cidade corrompida, 23% como uma cidade calma, 9% como uma cidade planejada, 7% como cidade não planejada, 2% assinalou a opção “outro”. Aqui a alternativa “cidade desenvolvida” obteve também porcentagem de 0%.

Acerca das dificuldades que estes professores encontraram para se adaptar a cidade, 17% elencaram o custo de vida, 16% as opções de lazer, esporte e cultura, 15% a internet, 12% o transporte público, 10% o clima. Ambos os itens “relações interpessoais” e “não teve dificuldades” alcançaram 6% respectivamente. Ainda quanto as dificuldades, 5% assinalaram a questão de possibilidades educacionais, 4% tanto o trânsito quanto a rede familiar, 3% outros motivos. As alternativas “oportunidade de trabalho no setor público”, “oportunidade de trabalho no setor privado” e “violência” foram 1% da amostra, cada.

Com o intuito de conhecer alguns aspectos que os professores identificam como positivo e negativo na cidade de Boa Vista, várias questões foram listadas. Desta forma, os professores deveriam assinalar todos aqueles pontos que eles verificavam como positivo e negativo.

 

Tabela 4 - Aspectos positivos e negativos da cidade de Boa Vista

Aspectos positivos e negativos da cidade de Boa Vista

Categorias

Positivo

Negativo

Oportunidade de trabalho no setor público

17%

0%

Oportunidade de trabalho no setor privado

1%

1%

Qualidade de vida

15%

1%

Índice de violência

9%

2%

Trânsito

8%

4%

Proximidade com a Venezuela

8%

0%

Proximidade com a Guiana

6%

0%

Proximidade com Manaus

5%

0%

Cultura indígena

6%

0%

Possibilidades educacionais

5%

4%

Estrutura da cidade

5%

4%

Pontos turísticos

3%

2%

Culinária local

3%

1%

Localização geográfica

3%

4%

Malha urbana

2%

4%

Sistema de saúde

1%

10%

Opções de lazer, esporte e cultura

1%

8%

Mercado imobiliário

1%

5%

Administração pública

0%

7%

Transporte público

0%

10%

Transporte aéreo

0%

9%

Segurança pública

0%

7%

Possiblidades de consumo

0%

5%

Malha viária

0%

5%

Rede comercial

0%

5%

 

Acerca das expectativas futuras destes professores em relação a permanecer na cidade de Boa Vista, 23% pretendem permanecer na cidade até a aposentadoria, 21% pretendem permanecer indefinidamente, 13% desejam mudar de estado brasileiro, 10% desejam retornar para junto da família de origem, 8% desejam retornar a cidade natal, 7% tanto pretendem permanecer na cidade no máximo pelos próximos 5 anos quanto outros 7% pretendem permanecer na cidade no máximo pelos próximos 10 anos. Outros 5% dos participantes pretendem permanecer na cidade no máximo pelos próximos 15 anos, 5% ainda desejam mudar de país e apenas 1% dos participantes desejam ir para outra cidade do estado de Roraima.

 

Avaliação do processo de constituição da identidade social de lugar

 

Com o intuito de investigar a construção da identidade social de lugar dos professores em relação a cidade de Boa Vista, algumas afirmativas foram dadas, e estes sujeitos da pesquisa tinham que assinalar aquela que mais refletisse seu modo de pensar. Deste modo, 37% assinalou que “Boa Vista não é minha terra natal, mas tornou-se minha terra. Outros 22% apontaram que “Não sou roraimense de nascimento, mas sou roraimense de coração”. Em seguida, com 13%, apareceu a afirmativa “Vivo em Boa Vista, mas não consegui me identificar com a cidade”.  Posteriormente, com 10% ,m“Ainda não encontrei uma terra que posso chamar de “minha””. Outros 9% disseram que “Boa Vista é uma cidade adequada para se viver, porém não consigo fixar raízes aqui”. Representando 8% da amostra surgiu a afirmação “Meu sonho é voltar para minha terra” e com 2% “Para mim o melhor lugar do mundo é minha terra natal”. 

Agrupando as respostas das duas primeiras afirmativas, que seriam as pessoas que se identificam em algum grau com a cidade, chega-se a 58% dos participantes. Unindo todas as outras afirmações, que diriam respeito a uma não identificação com a cidade, representa 42% dos professores. Desta forma, percebe-se que não há uma diferença tão significativa entre um e outro. Porém, se comparado às expectativas futuras destes professores em relação a permanecer em Boa vista, percebe-se que 78% pretende ir embora e apenas 22% pretende permanecer no estado de Roraima por tempo indeterminado. Uma questão surge desses dados: se boa parte dos professores se identificam de alguma forma com a cidade, porque a esmagadora maioria pretende ir embora?

Os dados nos revelam uma situação interessante que confirma a nossa hipótese, em que o tempo pode minimizar os aspectos concretos da cidade que levaram e/ou motivaram as pessoas a migrarem, como trabalho e qualidade de vida (já exposto acima), e elevar o desejo de mudança e/ou saída do local para um outro lugar e/ou lugar de origem. Pois se somarmos todas as repostas de saída, aufere o percentual de 78% dos professores que foram para Boa Vista, os quais têm, em geral, o desejo de sair de Boa Vista, o que varia é o tempo da permanência no local.

Defendemos a premissa que tem relação com a fragilidade no processo de construção da identidade de lugar e a potência que o local de origem – que o sujeito nasceu e/ou foi criado – tem na escolha do local para se habitar, considerando o espaço vivido. As lembranças do local de origem permanecem pujantes na memória dos professores, tão logo as necessidades materiais e de satisfação pessoal são atingidas, esses sujeitos passam a priorizar ao passar o tempo, um lugar que lhes proporciona apego e retorno as suas origens.

Isso não quer dizer o abandono de Boa Vista, ou uma representação negativa do lugar, como os dados demonstraram, mas uma inquietude de mudança permanente que acompanha o professor migrante que se relaciona diretamente com o processo de identidade de lugar.

Estes profissionais vieram pra Boa Vista por conta do trabalho, e estes permanecem até quando este trabalho lhe proporciona algum retorno, já que desses 78% pretendem ir embora, sendo 23% pretendem permanecer apenas até a aposentadoria. Outro motivo para não se identificar e desejar ir embora, seria por conta de estar longe da família e desejar esse retorno, já que 10% tem o desejo de retornar junto a família de origem. Percebe-se que a família e o trabalho mais uma vez aparecem como categorias imbricadas que determinam a permanência e a visão da cidade.

Acerca dos aspectos da cidade de Boa Vista com que os professores mais se identificam, 14% com a natureza, 12% com a diversidade cultural, 10% com a pluralidade de povos, 9% com o acolhimento, 8% com o ambiente, 7% com a culinária, 5% com a cultura, 4%, ambos com a música e com o artesanato. Os itens: comportamento, forma de tratamento, organização da cidade e lazer público corresponderam a 3%, cada. Com 2% cada apareceram os itens: folclore, hábito, sotaque, grupos, religião e “outros” e com 1% as instituições. Os itens dança, vestimenta e política não tiveram representação dentro da amostra.

Acerca dos aspectos da cidade de Boa Vista com que os professores mais se identificam: 14% com a natureza, 12% com a diversidade cultural, 10% com a pluralidade de povos, 9% com o acolhimento, 8% com o ambiente, 7% com a culinária, 5% com a cultura, 4% ambos com a música e com o artesanato.

“(...)as paisagens naturais também muito bonitas, as estradas, assim aquela coisa dos cavalos correndo é um negócio de filme... ah, eu sabia que eu ia encontrar esse povo manso, então também é uma coisa muito legal, a tranquilidade de você andar nas ruas é uma coisa que por si só vale estar aqui, eu particularmente aprecio muito (...)”

 

Tanto nos dados quantitativos quanto na entrevista aparece como algo com que se identificam a questão da natureza, algo que é característico da região norte como um todo e não somente de Boa Vista. O fato de a maioria dos professores que responderam ao questionário provirem da região Sudeste pode justificar, já que eles não possuem tanto acesso a essa característica da região Norte. Considerando que a natureza ou ambiente natural compõe a paisagem, o professor migrante constrói a imagem da cidade a partir de elementos naturais e isso remete ao pensamento idílico e a um modo de vida natural ou mais “primitivo”. Tem-se, em uma capital, a paisagem e o ambiente artificial ao mesmo tempo.

 

 

Considerações Finais

 

 

Buscando investigar a imagem que os professores migrantes brasileiros têm sobre a cidade de Boa Vista, os resultados encontrados possibilitaram estabelecer alguns indicativos que levaram a conjecturas para a compreensão desta representação. No que tange à representação do professor sobre a cidade, os resultados apontaram para uma relação entre família, trabalho e cidade, considerando também aspectos como a qualidade de vida, desejo de mudança e permanência.

A família surge como uma variável que influencia fortemente a opinião deste professor com relação a sua “vista de Boa Vista”, considerando que as relações familiares e sociais, que fazem parte de sua identidade, moldam a noção de apropriação de um determinado lugar. Tanto o fato de ter migrado com a família e esta não ter se adaptado a cidade, quanto não ter migrado com a família e por isso deseja retornar para junto desta, influenciam, em maior ou menor grau, numa certa resistência em se identificar com a cidade, o que justifica, em parte, sua não permanência na mesma.

Em relação ao trabalho, percebe-se que este se apresenta como o motivador para a vinda deste professor para a cidade, visto que ele busca estabilidade profissional e qualidade de vida, características que, a princípio, o trabalho no setor público oferece e que este professor de fato encontra na cidade. O professor vem pelo trabalho e mesmo estando satisfeito com todas as características do mesmo, o trabalho só o mantém na cidade até certo ponto.

A cidade aparece como o cenário onde essas relações acontecem e se desvelam, constituindo-se como algo que deve ser pensado e analisado, uma vez que a representação que se faz dela interfere na identidade, nas relações do indivíduo e principalmente na sua permanência ou não.

Os dados demonstraram que os professores migrantes elencaram diversos elementos da cidade de forma significativa como ambiente natural (paisagem), cultura, qualidade de vida e outros. Isso possibilita conjecturar que a representação da cidade condensa elementos ligados a sociabilidade e ao espaço natural, paradoxalmente, esses elementos favorecem um apego ao lugar, mas não um processo de identificação ou internalização da cidade, ao ponto que determine uma permanência indefinida. A inquietude pela mudança/retorno é constância na subjetividade desse professor.

 Deste modo, verificou-se que há de fato uma apropriação da noção de sujeito em trânsito por parte dos professores, uma vez que estes migram para a cidade, permanecem por determinado tempo, porém não conseguem se identificar com a cidade a tal ponto para permanecer. A acepção do sujeito em trânsito expressa não somente um pensamento, mas também uma forma de ser das pessoas, e isso tem resultado nas ações na vida cotidiana (trabalho, família, lazer, saúde).

Observa-se que o vínculo com a cidade de Boa Vista fica na superfície e as experiências com o local de origem e/ou outros lugares estão na base da sua memória e essas com uma potência de influenciar a ação dos professores de retorno, conforme a conjugação da satisfação do trabalho e família. Essa transitoriedade entre o presente e o passado, que caracteriza o sujeito em trânsito, como uma pessoa em que vivencia uma tensão constante no processo de identificação com o lugar, a díade permanência ou retorno, sempre estão presente na vida dessas pessoas.  


 

Referências

 

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Notas



[1] Doutor em Psicologia Social – USP.  

[2] Graduada em Psicologia – UFRR.

[3] Segundo Neves (2010), a cidade corrompida tem relação com a concepção de que no Estado de Roraima, especialmente na cidade de Boa Vista, as pessoas construíram um imaginário do enriquecimento que tem a ver com o resíduo do processo de colonização e posteriormente com a extração de pedras preciosas.  A prática política de corrupção e enriquecimento ilícito são constantemente atribuídas ao segmento político da cidade e a setores do funcionalismo público. Desta forma, a ideia do lugar, ora como eldorado, ora como lugar da corrupção, levou à concepção da cidade corrompida, um lugar que se busca a todo custo o enriquecimento, mesmo que infrinja a ética e a moral.

[4] Deve-se considerar que essa pesquisa foi realizada em 2013, como assinalamos no início desse texto. Hoje o indicador de violência no estado de Roraima pode ter sofrido alteração.

    

                Recebido 23/04/2018. Aceito para publicação 23/05/2018